Na entrevista exclusiva com Cabrini, o empresário acusado de matar gari relata sua versão para o homicídio triplamente qualificado que tirou a vida do gari Laudemir, contesta perícias, cita a arma da delegada e tenta desmontar a imagem de atirador frio diante do público em um caso que divide opiniões.
Na manhã de 11 de agosto, o empresário acusado de matar gari durante uma discussão de trânsito em Belo Horizonte passou a ocupar o centro de um dos casos criminais mais comentados do ano, após o disparo que atingiu o gari Laudemir enquanto ele trabalhava na coleta de lixo em uma rua estreita e congestionada.
Meses depois do homicídio triplamente qualificado que a polícia atribui a Renê da Silva Nogueira Júnior, a entrevista exclusiva com Cabrini dentro do presídio de Caeté expõe um réu que admite estar armado naquele 11 de agosto, reconhece ter passado pela cena do crime, mas nega ter efetuado o disparo que matou o gari Laudemir, sustentando a tese de acidente e falhas graves na investigação.
Quem é o empresário no centro da acusação
Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos, é apresentado como empresário do setor de alimentação, com trajetória de ascensão social após ter vivido na juventude em um bairro pobre de Miguel Couto, na Baixada Fluminense.
Em Belo Horizonte, construiu patrimônio, consolidou negócios e se casou com uma delegada de polícia conhecida pelo trabalho no combate à violência contra a mulher.
Nos inquéritos e relatórios policiais, porém, esse mesmo empresário acusado de matar gari aparece descrito como frio, agressivo, violento e obcecado por armas.
Há registros anteriores de conflito com ex-companheira, processo por acidente de trânsito com morte, anotações por extorsão e perseguição e relatos de que ele teria tentado usar sua posição social e contatos com autoridades em momentos de tensão.
Na própria entrevista exclusiva com Cabrini, o empresário insiste que não é violento, diz que “jamais” apontaria uma arma para trabalhadores da limpeza urbana e contesta a narrativa de que teria desprezado a vida do gari Laudemir por preconceito de classe ou raça.
Segundo ele, o histórico profissional e o esforço para “aproveitar a oportunidade” demonstrariam o contrário.
A manhã de 11 de agosto e a dinâmica do confronto
O caso que transformou o empresário acusado de matar gari em réu por homicídio triplamente qualificado começou em uma segunda-feira, 11 de agosto, por volta das 9 horas da manhã, na Rua Modestina de Souza, bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte.
O caminhão de coleta de lixo parou em uma via estreita, com carros estacionados dos dois lados, enquanto a equipe recolhia sacos e organizava o fluxo de veículos.
De acordo com os garis, o caminhão ocupava a faixa de rolamento e manobrava lentamente para permitir a passagem do carro de Renê, considerado maior que outros veículos que já haviam conseguido cruzar o trecho.
O gari Laudemir trabalhava na traseira do caminhão, visível pelo retrovisor esquerdo da motorista. Thiago Rodrigues Vieira, outro coletor, atuava na frente, sinalizando o trânsito e orientando manobras para evitar batidas.
O empresário afirma que seu carro não passava com segurança e que sensores e câmeras do veículo indicavam risco de colisão.
Segundo ele, do interior do automóvel, apenas repetiu que o carro não passava, sem qualquer intenção de agressão. Para as testemunhas, no entanto, ali começa a escalada de tensão que termina com o disparo que atingiu o gari Laudemir no abdômen.
Versões em choque: garis, empresário e a cronologia do disparo
Os garis ouvidos no processo relatam que o empresário acusado de matar gari teria se irritado com a lentidão da manobra, descido do veículo, deixado um objeto cair no chão, recolhido o que seria uma pistola e apontado a arma na direção da equipe.
Um deles afirma ter ouvido a frase: “Se você encostar no meu carro, eu dou um tiro na sua cara, você duvida?”.
Na narrativa de Thiago Rodrigues Vieira, confirmada por outros colegas, o homem teria feito a postura de tiro, engatilhado a arma, assumido posição de alvo e disparado em questão de segundos.
Ele relata que chegou a alertar o gari Laudemir dizendo que “esse cara vai atirar na gente”, antes de ouvir o estampido, ver o colega gritar que havia sido atingido e observar o braço da vítima subir coberto de sangue.
O empresário, por sua vez, nega ter proferido a ameaça e afirma ser “quase impossível” falar com alguém no alto de um caminhão de lixo com compactador ligado, a partir de um carro mais baixo.
Na entrevista exclusiva com Cabrini, ele admite que estava armado, reconhece que passou pela rua e que houve um “incidente”, mas sustenta que não atirou.
Em um bilhete manuscrito a antigos advogados, fala em “acidente com a vítima”, tese que, agora, diz ser resultado de sugestão de defesa, não de confissão.
Para a família do gari Laudemir, a sequência é inequívoca: o disparo partiu do empresário acusado de matar gari, que, depois de atirar, seguiu a rotina, foi trabalhar, voltou para casa, passeou com os cachorros e foi à academia no horário de almoço, comportamento que eles classificam como típico de alguém “frio” e “sem remorso”.
O próprio empresário admite, diante de Cabrini, que alguém que mata e depois treina normalmente poderia ser visto como psicopata, mas insiste que “não foi esse cara”.
A arma da delegada, suspeitas, bastidores e cadeia de custódia
Um dos pontos mais sensíveis do caso é a arma usada no crime, vinculada à esposa de Renê, delegada Ana Paula Balbino.
A polícia aponta que uma das armas registradas em nome da delegada teria sido a mesma utilizada no disparo que matou o gari Laudemir, embora a defesa alegue ausência de laudo balístico definitivo e falhas na cadeia de custódia.
O empresário admite ter levado a arma da esposa sem autorização, alegando que estava sendo ameaçado por um bicheiro e decidiu se proteger.
Em mensagens enviadas à delegada, cita calibres diferentes e escreve instruções sobre “entregar a 380 e a 9 mm”, o que para a acusação pode indicar tentativa de confundir investigadores ou de trocar a arma que teria disparado contra o gari Laudemir.
Ele, porém, diz que a mensagem reflete alívio ao saber que o disparo noticiado era de calibre .38, e não das armas registradas em nome da esposa.
A delegada nega ter cedido a arma e afirma, por meio de seu advogado, que o marido subtraiu o armamento sem seu conhecimento.
Ela responde a processos por suposto empréstimo de arma e por possível prevaricação, mas sustenta que não sabia da morte no momento em que recebeu o primeiro telefonema de Renê, no qual ele mencionava apenas um “incidente de trânsito” em local desconhecido.
O advogado da delegada caracteriza a situação como uma “ruptura” conjugal e institucional, já que ela teria descoberto a dimensão do caso apenas quando policiais militares ligaram informando que o marido era suspeito de matar um gari.
Na mesma entrevista exclusiva com Cabrini, o empresário acusado de matar gari diz ter sido ameaçado por delegados durante o primeiro depoimento, alega que teria sido coagido a seguir o texto ditado pela polícia sob o argumento de que a carreira da esposa poderia ser destruída.
A defesa atual denuncia irregularidades como o acesso à senha do celular do réu dentro do presídio sem presença de advogados, falhas na guarda da cena do crime e ausência de cápsulas no laudo inicial de local, o que, segundo eles, enfraqueceria a prova material do homicídio triplamente qualificado.
Histórico de processos, imagem pública e disputa de narrativas
O prontuário judicial de Renê inclui registros de agressão contra ex-companheira, perseguição, extorsão e um acidente de trânsito com morte.
Em um desses episódios, ele admite que seu carro “esbarrou” em uma pedestre que acabou atropelada por outro veículo, mas sustenta que não havia o que pudesse fazer em poucos segundos.
Em outro, uma ex denunciou fratura em dedo do pé, o que ele atribui a relato distorcido, enfatizando a ausência de marcas de empurrão em exames periciais.
Dentro do presídio, o empresário também é acusado de tentar dar carteirada, mencionando conhecer o secretário de Segurança de Minas Gerais a um agente penitenciário.
Ele afirma que foi, na verdade, ameaçado pelo servidor e que é “fácil acusar quem está dentro”, sem que a conduta do agente seja verificada com o mesmo rigor.
A família do gari Laudemir, por outro lado, descreve o coletor como trabalhador dedicado, que havia conquistado recentemente a guarda da filha de 15 anos e celebrava o Dia dos Pais com almoço e momentos de lazer.
Para a companheira e os colegas, o disparo do empresário acusado de matar gari simboliza não apenas um conflito de trânsito, mas a ideia de que a vida de um trabalhador da limpeza urbana, negro e periférico, valeria menos para quem dirige um carro caro e acredita ter prioridade absoluta na rua.
Essa disputa de narrativas atravessa toda a entrevista exclusiva com Cabrini. Em frente às câmeras, o empresário acusado de matar gari tenta se afastar da imagem de “homem frio” construída por testemunhas e familiares da vítima, questiona a credibilidade dos garis, sugere interesse financeiro ao lembrar que advogados da família teriam pedido milhões em indenização e insiste que não pode pedir desculpas porque isso significaria confessar um crime que diz não ter cometido.
O processo, as qualificadoras e o que está em jogo
Renê responde na Justiça por homicídio triplamente qualificado, porte ilegal de arma e fraude processual. As qualificadoras envolvem, entre outros elementos, motivo fútil, recurso que dificultou a defesa da vítima e uso de arma de fogo em contexto de risco coletivo.
Se condenado, o empresário acusado de matar gari pode pegar até 30 anos de prisão apenas pelo homicídio, sem contar penas adicionais pelos demais crimes.
A defesa aposta em apontar inconsistências probatórias, ausência de projétil compatível, fragilidade na cadeia de custódia e negativa de reconstituição do crime, que teria sido pedida “desde o primeiro momento” e indeferida pela autoridade policial.
Os advogados sustentam que não há prova técnica conclusiva de que a arma vinculada à delegada foi a mesma que matou o gari Laudemir, e que a investigação teria se apoiado em excesso em reconhecimento fotográfico e depoimentos de testemunhas que, segundo o réu, estariam alinhadas entre si.
Para o Ministério Público e para a família do gari Laudemir, o conjunto de relatos, a cronologia dos fatos, o comportamento do empresário dentro e fora de câmera e as mensagens sobre a arma formam um quadro coerente de culpa, reforçando a denúncia de homicídio triplamente qualificado.
Eles lembram que, logo após o crime, o réu teria dito a conhecidos que não sabia “nem onde era o lugar”, enquanto hoje admite ter passado exatamente pela rua do disparo, o que alimenta a percepção de contradição e tentativa de confundir a investigação.
Ao final, a decisão caberá ao tribunal do júri, que terá de avaliar se a narrativa do empresário acusado de matar gari convence mais do que a dos garis, da família do gari Laudemir e dos investigadores, ou se as lacunas apontadas pela defesa são suficientes para gerar dúvida razoável sobre quem puxou o gatilho naquele 11 de agosto.
Na sua opinião, as contradições do empresário e as falhas apontadas na investigação mudam a forma como você enxerga o caso do gari Laudemir?


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