As cidades da divisa entre Bahia e Minas Gerais escondem uma mistura rara de natureza impressionante, vida simples, festas tradicionais e um jeito acolhedor que faz muita gente sonhar em ir embora das capitais.
Quem só lembra da Bahia pelas praias e por Salvador quase nunca imagina que, lá em cima no mapa, existe uma faixa em que o estado se encontra com Minas, o sotaque se mistura, a culinária se completa e o tempo parece correr em outro ritmo. É justamente nessa região que vivem as cidades da divisa, pequenos municípios que guardam histórias profundas, forte senso de comunidade e paisagens que vão do mar ao cerrado, passando pelas margens do Velho Chico.
No vídeo que dá origem a este texto, o objetivo foi claro: mostrar que as cidades da divisa entre Bahia e Minas formam um Brasil diferente, mais humano e mais devagar, onde ainda existe aquilo que muita gente sente falta nas grandes metrópoles.
Agora, vamos organizar essa viagem em forma de artigo para você entender, cidade por cidade, o que existe por trás dessa fronteira que quase nunca aparece no noticiário.
Se ajeita aí, pega um café e vem percorrer essa rota da Bahia que ninguém mostra.
Bahia e Minas: onde as cidades da divisa se encontram
Quando a gente fala em cidades da divisa, está falando de um corredor longo, que vai do extremo sul baiano até o oeste do estado, encostando em Minas Gerais e, em alguns trechos, se aproximando também de Goiás.
Nessa faixa, a Bahia muda de cara várias vezes. Tem trecho com mar e pesca, trecho com rio grande e calmo, trecho com fazenda a perder de vista e áreas em que a cultura mineira e baiana se misturam tanto que fica difícil saber onde termina uma e começa a outra.
Essas cidades da divisa são, ao mesmo tempo, Bahia e Minas no jeito de falar, de comer, de trabalhar e de celebrar. São lugares em que todo mundo se conhece, onde o comércio ainda anota “na caderneta” e onde a vida gira em torno da praça, da igreja, do rio e das festas do calendário local.
É por isso que, para quem está cansado da correria das capitais, essas cidades começam a aparecer no radar como alternativa real de mudança de vida.
Mucuri e Nova Viçosa: litoral com alma de fronteira
A nossa rota pelas cidades da divisa começa no sul, em Mucuri. É uma cidade com cerca de 42 mil habitantes, encostada no mar, mas com uma ligação forte com Minas por causa da distância enorme até Salvador e mais curta até Belo Horizonte.
Mucuri vive do turismo e da produção de celulose. É aquele tipo de cidade em que o cheiro de mar faz parte da rotina, mas o movimento de caminhões e a presença da indústria mostram que ali também tem muito trabalho envolvido.
A área turística costuma ser mais tranquila, com aquele clima de cidade em que todos se esbarram na praça ou na orla. Quando alguém precisa de atendimento médico mais complexo, o caminho geralmente é Teixeira de Freitas, que concentra melhor estrutura de saúde na região.
Logo ao lado está Nova Viçosa, também com algo em torno de 42 mil habitantes, conhecida por praias bonitas e turismo de pesca. Fica longe de Salvador, mais perto de Minas, e por isso acaba funcionando como um elo entre o litoral baiano e o interior mineiro.
Mucuri e Nova Viçosa mostram que as cidades da divisa não são só sertão e fazenda. A fronteira Bahia–Minas também passa por areia, mar, barcos de pesca e festas de verão que movimentam todo o comércio local.
Às margens do Velho Chico: Carinhanha e Malhada
Saindo do litoral e entrando para dentro do mapa, a paisagem muda completamente. A divisa entre Bahia e Minas ganha a companhia do rio São Francisco, e é aí que aparecem Carinhanha e Malhada, duas cidades da divisa com personalidade forte.
Carinhanha tem algo próximo de 30 mil habitantes e vive à beira do Velho Chico. Agricultura, pesca e comércio local são a base da economia. Ali, o ritmo é ditado pelo rio e pelas tradições sertanejas. As festas de São João, as cavalgadas, os encontros familiares à beira d’água fazem parte da rotina. Para casos de saúde mais graves, a referência costuma ser Guanambi ou Barreiras.
Mais ao sul surge Malhada, com cerca de 16 mil habitantes, também colada no São Francisco. A sensação é de cidade desenhada para viver em paz com a natureza: margem de rio, rotina rural, pecuária, agricultura e um comércio que atende as necessidades básicas do dia a dia. Quando algo foge do comum na área da saúde, a saída também costuma ser buscar apoio em cidades maiores, como Guanambi.
Nessas cidades da divisa às margens do Velho Chico, a fronteira não é só Bahia e Minas. É também o encontro entre água, fé, história e um jeito simples de viver que atravessa gerações.
Cocos, Correntina e Formosa do Rio Preto: imensidão, água e agronegócio
Indo para o oeste, as cidades da divisa ganham cara de cerrado e de agronegócio. Cocos é um bom exemplo: cerca de 18 mil habitantes espalhados em um território enorme, com fazendas, estradas de terra e muita área rural. A cidade vive da agricultura irrigada, da pecuária e do comércio que abastece a população local e as comunidades ao redor. Para saúde mais avançada, os caminhos mais comuns são Santa Maria da Vitória e Barreiras.
Correntina, com pouco mais de 33 mil habitantes, é uma das queridinhas do oeste baiano. A cidade é cortada por rios de água cristalina, que viraram point de lazer com mergulhos, acampamentos e passeios. É o tipo de cidade em que a natureza virou parte da identidade, não só um cenário de fundo. A agricultura irrigada – soja, milho, algodão – transformou a economia local e trouxe gente de fora em busca de oportunidade. Em casos de saúde mais complexos, Santa Maria da Vitória e Barreiras voltam a aparecer como principais referências.
Formosa do Rio Preto é gigante em área, com mais de 10 mil km² e cerca de 26 mil habitantes. É um polo do agronegócio moderno, com fazendas altamente tecnificadas e máquinas enormes operando no campo. Apesar dessa escala, o clima urbano ainda é de cidade pequena em que todo mundo se conhece. Barreiras entra mais uma vez como centro de saúde e serviços para a região.
Nessas cidades da divisa do oeste baiano, a fronteira Bahia–Minas se mistura com a fronteira do agronegócio, do cerrado e de um Brasil que cresceu sem fazer tanto barulho.
Urandi, Jacaraci e Mortugaba: quase Minas, mas ainda Bahia
Mais ao sul e mais próximos fisicamente de Minas, surgem Urandi, Jacaraci e Mortugaba, três cidades da divisa que muita gente descreve como “quase mineiras”.
Urandi, com algo em torno de 18 mil habitantes, é ponto de passagem importante entre os dois estados. A economia gira em torno da agropecuária, do comércio local e de pequenas indústrias. O São João é uma das festas mais marcantes, com forró, quadrilha e rua cheia. Segurança com jeitão de interior: todo mundo sabe quem é quem.
Jacaraci, com aproximadamente 13 mil moradores, é daquelas cidades organizadas, com cara de cenário de novela das seis. Pecuária, agricultura e comércio sustentam a economia. O sotaque, o café, o ritmo de vida e o jeito de receber lembram muito o interior de Minas, mas com alma baiana em festa, fé e mesa farta. Para questões de saúde mais sérias, Guanambi entra na rota.
Mortugaba, também com cerca de 13 mil habitantes, segue a mesma lógica: pequena, organizada, com forte tradição em vaquejadas, agropecuária e comércio de serviços. Na saúde, Vitória da Conquista e Guanambi aparecem como referências regionais.
Essas três cidades mostram como as cidades da divisa podem assumir um perfil muito “mineiro” sem deixar de ser Bahia. É uma fronteira cultural viva no dia a dia.
Encruzilhada, Itambé e a força das cidades médias da divisa
Subindo um pouco, entram em cena Encruzilhada e Itambé, cidades da divisa que funcionam como pontos estratégicos na rota entre Bahia e Minas.
Encruzilhada tem por volta de 23 mil habitantes e é conhecida há décadas como parada tradicional de caminhoneiros e viajantes. A cidade vive da agropecuária, do comércio e de pequenas indústrias. Segurança mediana, mas com um centro urbano tranquilo e muito movimento em épocas de festa, como São João e vaquejadas.
Itambé, com aproximadamente 24 mil moradores, tem clima mais ameno e uma história ligada ao café. A cidade tem vida cultural forte, com desfiles, festas juninas e comemorações que resgatam o passado local. Quando alguém precisa de atendimento de saúde mais complexo, Vitória da Conquista costuma ser o destino natural.
E mesmo não estando literalmente grudada na linha da fronteira, Vitória da Conquista influencia toda essa faixa de cidades da divisa. Com quase 350 mil habitantes, shopping, universidades, aeroporto e grandes hospitais, ela virou aquela “capital oficiosa” do sudoeste baiano. Quem mora nas cidades da divisa e precisa de algo mais especializado quase sempre “desce para Conquista”.
Qualidade de vida nas cidades da divisa: segurança, saúde e festas
Um ponto que aparece o tempo todo quando se fala nas cidades da divisa entre Bahia e Minas é a sensação de comunidade.
Não é que esses lugares sejam perfeitos ou que não tenham problemas. Mas o fato de quase todo mundo se conhecer cria uma espécie de rede informal de proteção. A vizinha conhece a vizinha, que conhece o primo do dono da padaria. Se acontece algo fora do padrão, a notícia corre rápido e o próprio povo se mobiliza.
Na saúde, a lógica é similar em quase todas as cidades: o hospital municipal atende o dia a dia, e, para casos mais delicados, entram em cena polos regionais como Teixeira de Freitas, Guanambi, Barreiras, Bom Jesus da Lapa e Vitória da Conquista.
Já nas festas, a divisa vira palco de um calendário cheio. São João forte, festas de padroeiro, cavalgadas, vaquejadas, festas de verão no litoral, celebrações à beira do São Francisco, festivais ligados ao café, ao divino Espírito Santo e à cultura sertaneja.
É nessas datas que a identidade das cidades aparece com mais clareza e que muita gente que foi embora para as capitais volta só para matar a saudade.
Vale trocar a capital pelas cidades da divisa?
Depois de percorrer tantas cidades da divisa entre Bahia e Minas, a pergunta que fica é simples e poderosa: será que esse tipo de lugar serve para você?
Em comum, essas cidades oferecem natureza forte, laços de comunidade, festas tradicionais e um ritmo de vida muito diferente do trânsito pesado, do barulho constante e da pressa das grandes capitais. Por outro lado, exigem adaptação: as distâncias são grandes, alguns serviços são concentrados em polos regionais e a vida não tem a mesma oferta de lazer de metrópole.
Para muita gente, o equilíbrio tem vindo justamente dessas cidades da divisa, que são pequenas o suficiente para manter a vida humana, mas conectadas o bastante para não isolar ninguém do mundo.
E você, sinceramente: moraria em alguma dessas cidades da divisa entre Bahia e Minas? Qual delas mais combina com o seu jeito de viver e por quê?


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