China inaugura a primeira bateria de gravidade comercial do mundo, ergue blocos gigantes para armazenar energia limpa, desafia limites do lítioNa China a primeira bateria de gravidade integra armazenamento de energia renovável, baterias de lítio, energia solar e eólica e armazenamento de longa duração.

Erguida como um prédio industrial cheio de blocos gigantes, a primeira bateria de gravidade em escala comercial do mundo começa a operar na China e promete mudar a forma como armazenamos energia renovável em grande escala.

À primeira vista, ela parece só mais um edifício em construção, mas na prática a primeira bateria de gravidade funciona como um gigantesco “cofre” de energia limpa, usando blocos pesados erguidos e baixados por guindastes para guardar eletricidade e devolvê-la à rede quando for necessário. Em um momento em que solar e eólica crescem rápido e o mundo busca alternativas ao lítio, essa solução sai do papel e entra na vida real.

Ao mesmo tempo, o projeto chinês faz parte de uma nova corrida tecnológica por armazenamento renovável de longa duração. A primeira bateria de gravidade não é só uma curiosidade de engenharia, mas uma resposta concreta ao maior problema das fontes renováveis: como guardar o excedente de energia para usar nas horas de pico. Enquanto isso, países como o Brasil já começam a enfrentar cortes de geração solar e eólica por falta de como escoar ou armazenar essa energia.

Aceleração das renováveis e o gargalo do armazenamento

Nas últimas décadas, o mundo assistiu a uma explosão na instalação de painéis solares e turbinas eólicas. A boa notícia é óbvia: geramos cada vez mais energia limpa. A má notícia é que o sol não brilha o tempo todo e o vento não sopra sempre que a rede precisa, o que deixa o sistema elétrico vulnerável se não houver armazenamento.

Sem formas eficientes de estocar eletricidade, operadores são obrigados a desperdiçar energia em alguns momentos e a recorrer a fontes mais caras ou poluentes em outros. Não é um problema distante. O próprio vídeo que serve de base para este texto lembra que, no Brasil, já há cortes frequentes na geração solar e eólica por falta de como escoar ou armazenar o excedente, mesmo sendo um país com enorme potencial renovável.

É nesse contexto que entra a corrida por soluções como baterias químicas, usinas reversíveis e, agora, a primeira bateria de gravidade em escala comercial.

Por que olhar além das baterias de lítio

Até aqui, a solução mais usada em armazenamento em larga escala tem sido a bateria de íons de lítio. Funciona, é compacta e já está bastante difundida, mas tem limitações importantes: depende de mineração de lítio e outros minerais escassos e sofre degradação química ao longo dos anos, reduzindo sua capacidade e exigindo substituição periódica.

Nesse cenário, a ideia por trás da primeira bateria de gravidade é simples e poderosa: usar a física mais básica possível para guardar energia. Em vez de depender de reações químicas complexas, o sistema se apoia na gravidade, algo que não envelhece, não se desgasta e está presente em qualquer lugar do planeta.

Como funciona a primeira bateria de gravidade

Você provavelmente já ouviu falar em energia potencial gravitacional nas aulas de física. Qualquer objeto posicionado em altura em relação ao solo guarda energia na forma de posição. Quando ele desce, a gravidade transforma essa energia armazenada em movimento, que pode ser convertido em eletricidade.

A primeira bateria de gravidade usa esse princípio em escala gigantesca. Quando há excesso de geração renovável, por exemplo em horários de pico de energia solar ou em períodos de muito vento, o sistema usa essa eletricidade para erguer blocos extremamente pesados até uma posição elevada, como se estivesse carregando um “estoque” de energia para o futuro.

Quando a rede precisa de eletricidade, os blocos descem de forma controlada. Os motores que antes funcionavam como guinchos passam a operar como geradores, convertendo o movimento de descida em energia elétrica de volta para a rede. Na prática, a bateria de gravidade é um enorme elevador de blocos que sobe com energia excedente e desce para devolver essa energia em forma de eletricidade.

A inspiração nas hidrelétricas reversíveis

Esse conceito lembra bastante algo que já existe há mais de um século: as usinas hidrelétricas reversíveis. Quando há energia sobrando no sistema, essas usinas bombeiam água para um reservatório mais alto. Quando a rede precisa de energia, essa água desce por turbinas, gerando eletricidade novamente.

A diferença é que hidrelétricas reversíveis dependem de geografia favorável e grandes reservatórios, o que nem sempre é possível. Já a primeira bateria de gravidade chinesa e seus projetos irmãos podem ser construídos em estruturas verticais, usando blocos e torres em locais onde a geografia não permite grandes lagos artificiais. É uma forma de “imitar” o princípio da água em altura, mas com concreto, aço e guindastes.

O projeto chinês que tirou a bateria de gravidade do papel

Na região de Rudong, a China ergueu a primeira bateria de gravidade em escala comercial do mundo, o projeto EVx da empresa suíça Energy Vault. Em vez de tanques ou volumes de líquidos, a instalação se parece com um prédio industrial alto, onde guindastes automatizados erguem e baixam blocos maciços para armazenar e liberar energia.

De acordo com a descrição do projeto, esse sistema tem capacidade de cerca de 1000 MWh e potência de 25 MW, o suficiente para abastecer milhares de casas por algumas horas em um momento de maior consumo. Estima-se ainda que a eficiência de ida e volta ultrapasse 80 por cento, um índice competitivo quando comparado a outras tecnologias de armazenamento de longa duração.

Outro destaque é a durabilidade. Enquanto muitas baterias químicas são projetadas para durar algo entre 10 e 15 anos, a primeira bateria de gravidade chinesa foi planejada para operar por cerca de 35 anos, com muito menos perda de desempenho ao longo do tempo.

Uma frota de baterias de gravidade e bilhões em investimentos

A China, porém, não está apostando em apenas uma unidade. Além da primeira bateria de gravidade já construída, existem pelo menos seis projetos adicionais de baterias gravitacionais planejados, com capacidades variando de 100 MWh até 660 MWh cada. Há inclusive planos de um sistema gigantesco de 2000 MWh na região da Mongólia.

Somando todos esses projetos, a capacidade acumulada de armazenamento gravitacional prevista chega a 3,26 GWh, com investimentos que ultrapassam 1 bilhão de dólares. Em outras palavras, a primeira bateria de gravidade não é um experimento isolado, mas o ponto de partida de uma estratégia em escala nacional para armazenar energia limpa.

Custos, desafios e vantagens ambientais

Claro que a tecnologia não é perfeita. As estruturas são grandes, ocupam espaço importante e exigem um investimento inicial alto. Além disso, a resposta ao mercado, isto é, a velocidade com que o sistema consegue entrar e sair de operação, nem sempre é tão rápida quanto a de uma bateria de lítio tradicional.

Por outro lado, a lista de vantagens é relevante. A vida útil projetada é muito mais longa que a de baterias químicas, a eficiência energética é competitiva e o impacto ambiental tende a ser menor. Os blocos usados na primeira bateria de gravidade e em projetos similares podem ser feitos com resíduos de construção ou materiais locais, reduzindo a necessidade de extrair minerais críticos. Menos química sensível, menos risco de descarte problemático e mais reaproveitamento de recursos que já existem.

Minas, poços e outras formas de usar a gravidade

A China não está sozinha nessa corrida. Na Escócia, por exemplo, uma startup vem testando outra abordagem para a bateria de gravidade. Em vez de erguer prédios altos com blocos pendurados, a ideia é usar poços e minas desativadas para movimentar grandes pesos para cima e para baixo.

A lógica é parecida, mas o caminho é diferente. Ao aproveitar a infraestrutura já existente, como elevadores de minas antigas, é possível reduzir custos, acelerar a implantação e transformar passivos industriais em ativos energéticos de longo prazo. Como a Europa está cheia de minas abandonadas, essa solução pode abrir um novo capítulo para áreas que hoje são vistas como problema.

Por que isso importa para o Brasil

Embora o foco da primeira bateria de gravidade esteja hoje na China e em testes na Europa, o problema que ela tenta resolver é o mesmo que o Brasil já está sentindo: como armazenar energia renovável de forma confiável e em larga escala.

O país vive um momento de forte expansão da geração solar e eólica, mas já enfrenta situações em que precisa cortar parte dessa produção por falta de infraestrutura de escoamento ou armazenamento. Se o Brasil quiser transformar sua vocação em energia limpa em vantagem estratégica duradoura, vai precisar olhar com atenção para tecnologias de armazenamento de longa duração, incluindo baterias de gravidade, usinas reversíveis e soluções híbridas.

O potencial brasileiro é enorme. A combinação de sol, vento, matriz já majoritariamente renovável e capacidade de atrair investimentos coloca o país em posição privilegiada. O desafio é evitar a autossabotagem, reduzir incertezas regulatórias e criar um ambiente em que soluções como a bateria de gravidade possam ser testadas e, quem sabe, escaladas no futuro.

A primeira bateria de gravidade e o início de uma nova corrida

A primeira bateria de gravidade inaugurada na China não resolve sozinha todos os problemas do sistema elétrico global, mas marca o início de uma nova fase. Em vez de depender apenas de baterias químicas, o mundo passa a experimentar formas mais robustas, duráveis e potencialmente sustentáveis de armazenar energia limpa.

Se esses projetos se mostrarem viáveis técnica e economicamente, é provável que surjam novas torres, poços reaproveitados e instalações híbridas em vários países. A gravidade, que sempre esteve aí, pode se tornar uma aliada central da transição energética, ajudando a equilibrar redes elétricas e dar mais segurança ao avanço das renováveis.

E você, olhando para tudo isso, acha que a primeira bateria de gravidade e suas futuras “irmãs” vão mesmo ganhar espaço no mundo ou as baterias de lítio ainda vão continuar dominando o armazenamento de energia por muito tempo?

Autor

  • Carla Teles

    Produzo conteúdos diários sobre economia, curiosidades, setor automotivo, tecnologia, inovação, construção, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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