Dados da ABBC mostram que, em novembro de 2025, as novas regras do FGTS derrubaram em 80 por cento a antecipação do saque aniversário, reduziram o crédito de 3 bilhões para 600 milhões e deixaram milhões de trabalhadores de baixa renda sem acesso às principais linhas baratas de crédito essenciais.
Nesta terça-feira, 9 de dezembro de 2025, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) divulgou uma nota com dados que mostram o efeito imediato das novas regras do FGTS sobre o crédito atrelado ao saque aniversário. Em novembro, primeiro mês de vigência das mudanças aprovadas pelo Conselho Curador do FGTS, as contratações de antecipação despencaram 80 por cento e o volume liberado recuou de cerca de R$ 3 bilhões por mês para aproximadamente R$ 600 milhões.
Segundo a ABBC, a combinação de novo valor mínimo por parcela, limite de operações e carência de 90 dias estrangulou a oferta de crédito baseada no FGTS, atingindo principalmente trabalhadores de baixa renda, desempregados e negativados que usavam a antecipação como uma das poucas linhas de custo mais baixo disponíveis no mercado.
Queda histórica e risco de extinção da modalidade
De janeiro a outubro deste ano, a antecipação do saque aniversário movimentou em média R$ 3 bilhões por mês, de acordo com a ABBC. Com as novas regras do FGTS em vigor desde novembro, esse montante caiu para cerca de R$ 600 milhões, uma redução de 80 por cento nas novas concessões.
A entidade atribui cerca de 90 por cento dessa queda a uma única exigência: o piso de R$ 100 por parcela anual antecipada. A avaliação dos bancos é que esse valor mínimo praticamente expulsa da modalidade quem tem saldos baixos de FGTS e buscava antecipar quantias menores para cobrir despesas imediatas.
Mantidas as regras atuais, a associação estima que, nos próximos meses, as concessões de crédito por meio da antecipação do FGTS podem cair para cerca de 5 por cento dos níveis anteriores. Para as instituições financeiras, isso representa a extinção prática de uma linha que se consolidou como uma das principais opções de crédito de menor custo do país.
O que mudou nas regras do FGTS para o saque aniversário
As mudanças aprovadas pelo Conselho Curador do FGTS alteraram a lógica de funcionamento da antecipação do saque aniversário, impondo um conjunto de travas adicionais. Entre os principais pontos estão:
- carência de 90 dias entre a adesão ao saque aniversário e a contratação da antecipação
- limitação de prazo a cinco anos de parcelas até outubro de 2026, passando a três anos a partir de novembro de 2026
- valor mínimo de R$ 100 e máximo de R$ 500 por parcela anual antecipada
- restrição a apenas uma operação de antecipação por trabalhador, mesmo quando ainda há saldo disponível no FGTS
Na prática, quem tem pouco saldo acumulado no FGTS ou precisa de valores menores esbarra no piso de R$ 100, enquanto a limitação a uma única operação por CPF impede novas antecipações mesmo quando o fundo continua recebendo depósitos.
Público vulnerável é o mais afetado pelas novas travas
A nota da ABBC chama atenção para o perfil de quem mais sente o impacto das mudanças. Dos 134 milhões de brasileiros com saldo no FGTS, mais de 85 milhões estão sem emprego e, por isso, não podem contratar o Crédito do Trabalhador, o novo consignado em folha do setor privado apresentado pelo governo como substituto ao saque aniversário.
Entre os 37 milhões de trabalhadores que aderiram ao saque aniversário, 26 milhões já tinham contratado a antecipação do FGTS, sendo 9 milhões desempregados. Além disso, 74 por cento dos contratantes estão negativados, o que reduz drasticamente a possibilidade de acesso a outras modalidades de crédito, normalmente mais caras.
Esse grupo vinha usando o crédito lastreado no FGTS como alternativa a linhas com juros mais elevados. Com o aperto nas regras, parte expressiva desses trabalhadores perde justamente a modalidade que oferecia taxas mais baixas e um processo de contratação mais simples.
Crédito do Trabalhador ainda não substitui o saque aniversário
Mesmo entre os trabalhadores empregados, a migração para o Crédito do Trabalhador não tem sido automática. Um levantamento feito com cinco instituições associadas à ABBC, responsáveis por cerca de 40 por cento das operações de antecipação, mostra que apenas 25 a cada 100 trabalhadores que anteciparam o FGTS conseguiram ter propostas aprovadas no novo consignado.
Os bancos também relatam que as taxas cobradas no Crédito do Trabalhador têm ficado acima do teto de 1,79 por cento ao mês que valia para a antecipação do FGTS. Isso significa que, além de mais difícil de acessar, a nova linha tende a ser mais cara para quem consegue aprovação.
Bancos pedem revisão de pontos centrais das regras do FGTS
Diante do recuo brusco na concessão de crédito, a ABBC defende que o Conselho Curador do FGTS faça uma revisão pontual das mudanças. A prioridade, segundo a entidade, seria reduzir o piso por parcela e flexibilizar a regra que limita a apenas uma operação por trabalhador.
Os cálculos da associação indicam que, se o valor mínimo por parcela anual antecipada fosse reduzido de R$ 100 para R$ 50 e a proibição de mais de uma operação por trabalhador fosse retirada, a queda nas concessões ficaria em torno de 35 por cento, em vez dos 80 por cento observados em novembro. Na visão dos bancos, esse ajuste preservaria a sustentabilidade da modalidade sem fechar tanto a porta de acesso ao crédito para quem depende do FGTS.

