Nos Estados Unidos, a estimativa de 770 mil pessoas em situação de rua em 2024 convive com 23 milhões de milionários em 2025, expondo um modelo econômico que concentra riqueza, empurra vulneráveis para as calçadas e falha em garantir moradia, saúde e educação dignas em todo o país inteiro hoje.
Nos Estados Unidos, os números mais recentes escancaram um abismo social difícil de ignorar. Em 2024, estimativas apontaram para mais de 770 mil pessoas vivendo sem moradia fixa, enquanto em 2025 o país segue sendo casa de 23 milhões de milionários, consolidando sua imagem de paraíso de ricaços e, ao mesmo tempo, terra onde falta o básico para centenas de milhares de cidadãos.
Essas duas realidades convivem nas mesmas ruas, avenidas e grandes centros urbanos dos Estados Unidos, onde condomínios de luxo, carros de altíssimo padrão e consumo ostentado dividem cenário com pessoas dormindo em calçadas, abrigos improvisados e marquises, sem acesso regular a saúde, alimentação adequada, saneamento e higiene. O resultado é um retrato de desigualdade que vai muito além das estatísticas e se traduz em vidas permanentemente em suspensão.
Paraíso de milionários em meio à exclusão cotidiana
Os Estados Unidos são frequentemente citados como o país com maior número absoluto de pessoas em situação de rua, ao mesmo tempo em que concentram a maior quantidade de milionários do planeta. De um lado, 23 milhões de cidadãos com patrimônio milionário; de outro, centenas de milhares sem um teto para dormir.
O crescimento constante desse grupo de milionários está associado a fatores internos do próprio modelo econômico dos Estados Unidos, como ambiente favorável ao empreendedorismo, grande oferta de investimentos e um mercado financeiro robusto, com múltiplas oportunidades para quem consegue acessar crédito, educação financeira e redes de negócios.
Enquanto isso, o outro lado da moeda revela um sistema que deixa milhões de pessoas para trás, especialmente quando o assunto é acesso a moradia, saúde, educação e serviços básicos. O mesmo país que alimenta o sonho de enriquecimento rápido e de ascensão social também convive com famílias inteiras vivendo em carros, tendas ou em abrigos lotados.
Como o modelo econômico dos Estados Unidos alimenta o contraste
O ambiente de negócios dos Estados Unidos é celebrado por investidores e empresários justamente por oferecer mecanismos de valorização de patrimônio em alta escala. A lógica de mercado favorece quem já entra no jogo com algum capital, conhecimento ou rede de contatos. A engrenagem que multiplica fortunas é movida por bolsas de valores fortes, crédito sofisticado e uma cultura de risco calculado.
Ao mesmo tempo, a realidade de quem está na base dessa pirâmide é bem diferente. Trabalhos precários, instabilidade de renda e dificuldade para arcar com custos de moradia em grandes cidades contribuem para que parte da população acabe perdendo o teto e se veja empurrada para a rua. Some-se a isso a dificuldade de acesso contínuo a saúde, apoio em saúde mental, políticas de prevenção e programas estruturados de habitação.
Assim, o mesmo sistema que cria milionários em série também alimenta a fila de pessoas em situação de rua, seja por ausência de uma rede de proteção social sólida, seja pela incapacidade de evitar que uma crise pessoal, um problema de saúde ou a perda de emprego se transformem em situação crônica de desabrigo.
Moradores de rua nas grandes cidades: o drama visível dos Estados Unidos
O fenômeno da falta de moradia se expressa com mais força nos grandes centros urbanos, onde o custo de vida é elevado e a competição por vagas de emprego e por aluguel é intensa. Nas regiões que concentram riqueza e serviços, a presença de pessoas em situação de rua se torna um lembrete permanente das falhas do sistema.
Nos Estados Unidos, não se trata apenas de indivíduos isolados, mas de famílias inteiras vivendo em abrigos temporários, pessoas que alternam entre casas de amigos, carros e ruas, além de cidadãos que nunca conseguiram voltar a ter um endereço fixo após uma crise financeira ou problema de saúde. O acesso desigual a moradia digna, já citado pelas estatísticas, se traduz no cotidiano em longas filas por vagas em abrigos, espera por atendimento social e pouca previsibilidade sobre o dia seguinte.
Enquanto isso, a paisagem do luxo extremo permanece intocada, com bairros de altíssimo padrão, consumo sofisticado e fortunas que seguem se valorizando. O contraste entre quem tem sobra de patrimônio e quem não tem sequer um colchão para dormir é um dos pontos mais visíveis da desigualdade nos Estados Unidos.
Índia, China e Estados Unidos: desigualdades diferentes, mesma urgência social
Quando se comparam os Estados Unidos com outros grandes países, como Índia e China, a desigualdade aparece de maneiras distintas. Em Índia e China, estimativas apontam para milhões de pessoas em situação de rua, mas a ausência de dados oficiais completos e padronizados torna difícil cravar números exatos ou montar um ranking mundial absolutamente confiável.
Em comum, está o fato de que as três nações lidam com desafios gigantescos em termos de inclusão social, acesso a moradia e redução da pobreza extrema. A diferença é que, no caso dos Estados Unidos, a combinação entre o maior número de milionários e um contingente expressivo de desabrigados torna o contraste mais explícito aos olhos do mundo, reforçando a percepção de que a riqueza está altamente concentrada em uma parcela relativamente pequena da população.
Em outras palavras, enquanto Índia e China lidam com seus próprios abismos sociais, nenhuma delas concentra tantos milionários quanto os Estados Unidos, o que faz a imagem do país como paraíso de ricaços ganhar ainda mais peso nas discussões sobre justiça social e distribuição de renda.
Definições de “morador de rua” distorcem o mapa global da desigualdade
Um ponto central para entender esse debate é a forma como cada país define o que é um “morador de rua”. Não existe um padrão único e obrigatório para classificar quem vive em situação de desabrigo, o que complica a comparação internacional.
Em alguns lugares, entram nas estatísticas apenas as pessoas que vivem efetivamente ao relento, sem qualquer tipo de cobertura ou abrigo fixo. Em outros, passam a ser contabilizadas também aquelas que vivem em moradias temporárias, quartos compartilhados, abrigos públicos, carros ou estruturas bastante precárias.
Essa variação faz com que qualquer ranking global de moradores de rua tenha limitações importantes. Os próprios dados dos Estados Unidos, mesmo com a estimativa de 770 mil pessoas sem moradia fixa em 2024, estão sujeitos a critérios de contagem, metodologia e periodicidade de coleta, o que reforça a necessidade de cautela ao comparar países diferentes.
Ainda assim, o que salta aos olhos não é apenas a posição dos Estados Unidos em qualquer lista, e sim o fato de que, independentemente da metodologia, o número de pessoas em situação de rua segue elevado, enquanto o grupo de milionários continua crescendo com força.
Um retrato incômodo dos Estados Unidos para o mundo inteiro
Quando se olha para o conjunto desses dados, os Estados Unidos assumem o papel de espelho desconfortável para outras sociedades. De um lado, o país é apresentado como símbolo de oportunidade, de ascensão e de liberdade econômica. De outro, mostra que riqueza sem mecanismos robustos de proteção social pode produzir bolsões intensos de exclusão, visíveis em qualquer grande centro urbano.
A coexistência de 23 milhões de milionários e cerca de 770 mil pessoas sem moradia fixa revela que a discussão sobre desigualdade não se limita a países pobres ou em desenvolvimento. Ela alcança o coração de uma das maiores potências do planeta e mostra que não basta crescer economicamente se uma parte significativa da população continua sem acesso a direitos básicos.

