Longe da costa, em águas agitadas do estado de Maryland, um empresário decidiu transformar um farol centenário em pleno oceano em casa, centro educativo e espaço de preservação ambiental, investindo mais de R$ 7 milhões na compra e restauração de três faróis marítimos nos Estados Unidos.
Do lado de fora, a estrutura metálica erguida no meio da baía parece apenas mais um farol antigo tentando resistir ao tempo. Mas por dentro, o projeto já começou a ganhar forma: banheiro instalado, ambientes limpos, planos de cozinha, quartos e até um mirante panorâmico, tudo para que o farol volte a ser habitado, agora com um propósito completamente novo.
Imagine acordar cercado apenas pelo som do vento, da água batendo na estrutura metálica e de gaivotas circulando ao redor. Nada de vizinhos, ruas movimentadas ou prédios ao redor. A poucos metros da porta da sua casa, não há calçada nem jardim, só o oceano.
É exatamente essa a realidade que o empresário americano Richard, conhecido como Rich, está construindo ao transformar um farol centenário em pleno oceano em casa, refúgio e base de um projeto educativo.
Depois que o governo norte-americano colocou faróis históricos em leilão, Rich vendeu propriedades e terrenos que tinha em terra firme para concretizar um sonho improvável: comprar três faróis marítimos, restaurá-los e dar a eles um novo propósito, unindo preservação da memória, educação ambiental e experiência de vida extrema em um dos cenários mais isolados que uma pessoa pode escolher para morar.
Farol no meio do oceano: de posto de navegação a casa suspensa sobre as ondas
O farol que se tornou o centro do projeto fica na baía de Chesapeake, no estado de Maryland. Construído há mais de 120 anos, ele foi erguido sobre uma base metálica fincada em águas profundas, distante de qualquer costa visível a olho nu.
Durante décadas, funcionou como ponto de orientação para embarcações e casa para faroleiros que viviam ali em regime de isolamento.
Com o avanço da automação, o farol deixou de precisar de moradores fixos. A luz continuou operando, mas os ambientes internos foram abandonados. Por cerca de 60 anos, o farol ficou vazio, deteriorando aos poucos sob a ação do vento, da água salgada e do tempo.
Quando Rich o arrematou em leilão, encontrou uma estrutura suja, cheia de entulho e marcas do abandono prolongado.
Ainda assim, o potencial era evidente: seis níveis internos, vista de 360 graus para o oceano e uma história centenária impressa em cada degrau de metal. Era, ao mesmo tempo, ruína e oportunidade.
Quem é o empresário que comprou três faróis marítimos
Richard não comprou apenas um farol. No mesmo processo de leilões, ele arrematou três faróis marítimos históricos, assumindo o compromisso de restaurar cada um deles e dar um novo significado a essas estruturas que, em muitos casos, estavam fadadas ao esquecimento.
Pai de quatro filhos, divorciado e dono de uma empresa do ramo de limpeza e pintura industrial, ele sempre foi apaixonado por restauração de antiguidades.
No caso dos faróis, juntou a experiência profissional com um sonho pessoal. Vendeu propriedades, reorganizou o patrimônio e decidiu investir mais de R$ 7 milhões no projeto, somando o custo de compra, reformas e adaptações.
Chamado de louco em mais de uma ocasião, Rich leva a crítica com naturalidade. Na visão dele, não se trata apenas de excentricidade, mas de salvar um pedaço da história marítima e transformá-lo em algo útil para as próximas gerações, ainda que o endereço dessa história seja um farol balançando no meio da água.
A logística de transformar um farol centenário em pleno oceano em casa
Chegar ao farol já é uma aventura. Do continente até a estrutura, o trajeto é feito em um barco de médio porte, gastando cerca de 25 minutos de navegação. Em dias de vento ou mar mais agitado, o tempo pode parecer bem maior.
Tudo o que entra no farol precisa ser transportado barco a barco. Cada caixa, cada ferramenta, cada mochila é içada manualmente, com o piloto posicionando a embarcação o mais próximo possível da base metálica. A subida é feita por uma escada externa de metal, exposta ao vento e às ondas, exigindo atenção e preparo físico.
Esse desafio logístico impacta diretamente a obra. Qualquer reforma que, em terra firme, seria simples e rápida, aqui se transforma em uma operação complexa, que envolve prever clima, maré, peso de carga e até o tempo de permanência segura no local. Não há loja de material de construção na esquina, se algo é esquecido, volta tudo para o barco.
Como é o interior do farol que está sendo restaurado
Por dentro, o farol é organizado em seis níveis. O andar inferior, que antes estava tomado por sujeira e entulho, foi o primeiro a receber intervenções.
Ali, o foco inicial foi torná-lo habitável: limpeza profunda, instalação de um banheiro funcional e reorganização do espaço, abrindo caminho para que a equipe possa permanecer mais tempo a bordo.
Nos andares intermediários, há ambientes que serão transformados em quartos e áreas de convivência. Um dos espaços mais marcantes é um quarto com janelas redondas, semelhantes às escotilhas de um navio.
Essas janelas são originais, com mais de 120 anos de história, e permitem a entrada de luz natural em diferentes ângulos, criando uma sensação única de proximidade com o mar.
A escada interna, íngreme e estreita, conecta todos os níveis até o topo, onde fica a antiga área da lanterna.
É ali que Rich planeja criar o ponto mais especial do projeto: um espaço de observação panorâmica, em que as pessoas poderão comer, beber, contemplar o pôr do sol e observar o movimento do oceano a partir de um dos pontos mais isolados da região.
De posto de trabalho dos faroleiros a refúgio contemporâneo
Durante décadas, esse farol foi mais do que um equipamento de navegação: foi casa. Faroleiros e suas famílias viveram ali, convivendo com o isolamento, a rotina de manutenção da luz e a responsabilidade de manter a estrutura em operação constante.
Com a automação, esse modo de vida desapareceu. Não era mais necessário morar no farol para mantê-lo aceso, e toda uma cultura de trabalho e moradia foi interrompida.
O prédio permaneceu em pé, mas esvaziado de pessoas, histórias contemporâneas e função cotidiana.
Ao decidir transformar um farol centenário em pleno oceano em casa, Rich também resgata esse aspecto humano da estrutura.
A ideia não é apenas morar ali ocasionalmente, mas usar o espaço como ponto de encontro, experiência imersiva e ferramenta viva de educação, mostrando como esses faróis eram e podem voltar a ser relevantes.
Centros educativos e ambientais em pleno mar
Desde o início, o empresário deixou claro que seu objetivo vai além da moradia alternativa. O plano é restaurar os três faróis e transformá-los em centros educativos e ambientais, conectados a projetos de conscientização sobre história marítima, preservação da natureza e impacto humano nas zonas costeiras.
A localização isolada é, ao mesmo tempo, desafio e oportunidade. Estar no meio do oceano permite observar de perto o comportamento da fauna, o fluxo das marés, a qualidade da água e os efeitos das mudanças climáticas.
Ao abrir o farol para visitas guiadas, programas educativos e estadias curtas, o projeto pode aproximar estudantes, pesquisadores e curiosos de um ambiente que normalmente só se vê à distância.
Em vez de virar apenas uma casa exótica para fins privados, o farol se torna plataforma de aprendizagem, diálogo e experiência, um laboratório vivo preso a uma base metálica no fundo da baía.
O custo de manter um sonho em alto-mar
Restaurar e transformar um farol centenário em pleno oceano em casa não é apenas caro para começar, mas também para manter.
O investimento total estimado em torno de R$ 7 milhões inclui compra dos três faróis, obras estruturais, adaptações internas, equipamentos, transporte e manutenção contínua.
Além do dinheiro, o projeto exige tempo, energia e persistência. Cada avanço é documentado pelo próprio Rich em vídeos e registros nas redes sociais, onde ele mostra desde a remoção de entulho até as pequenas conquistas, como a instalação do banheiro, a limpeza de um nível ou a organização de um novo ambiente.
O ritmo da obra é naturalmente lento, condicionado por clima, mar, equipe disponível e recursos. Mas é justamente essa combinação de dificuldade e propósito que faz a história se destacar: não é um projeto pensado para lucro rápido, e sim para legado.
Três faróis, um mesmo propósito
Ao arrematar três faróis marítimos, Rich não está apenas acumulando propriedades exóticas. Ele está construindo um ecossistema de memória, educação e experiência em torno dessas estruturas.
Cada farol tem sua história, sua localização e seus desafios específicos, mas todos compartilham a mesma ideia central: não deixar que esses ícones centenários sejam engolidos pelo tempo e pela corrosão.
O farol que hoje ganha forma como casa e centro educativo é o mais avançado do trio, mas o objetivo declarado é que todos cheguem a um estágio semelhante, com áreas habitáveis, espaços de observação e programas educativos.
A longo prazo, esses faróis podem formar uma espécie de “rota” de experiências em alto-mar, conectando passado, presente e futuro.
Um sonho maluco ou um novo modelo de preservação?
Chamado de louco por investir tanto dinheiro e esforço em estruturas isoladas no meio da água, o empresário não parece se incomodar com o rótulo. Para ele, a verdadeira loucura seria deixar essas obras centenárias se perderem sem tentar nada.
A história de Rich levanta uma discussão importante: em um mundo onde tudo precisa ser imediatamente rentável, ainda há espaço para projetos de longo prazo, com foco em memória, educação e experiência?
O caso desses faróis mostra que sim, e que muitas vezes é justamente alguém disposto a correr riscos que muda o destino de lugares esquecidos.
No fim das contas, transformar um farol centenário em pleno oceano em casa, centro educativo e refúgio ambiental é menos sobre excentricidade e mais sobre visão. É pegar algo que o sistema já considerava descartável e provar que ainda há histórias a serem vividas ali.
E você, teria coragem de passar alguns dias, ou até morar, em um farol isolado no meio do oceano, com essa vista surreal e essa rotina tão diferente da vida em terra firme?

