Em Patrocínio, Minas Gerais, casal vira caso raro na roça ao manter a família unida na Chácara São Roque: filhos formados retornam, organizam a ordenha de vacas Jersey, equilibram queijo e café, e sustentam um criatório de galinhas caipiras selecionadas, com renda distribuída entre campo e cidade sem abrir mão
Em Patrocínio, no Alto Paranaíba, um casal vira caso raro na roça ao relatar que os três filhos estudaram, se formaram e voltaram para tocar a fazenda. A história se organiza por marcos objetivos: a família entrou na cafeicultura em 1995, começou a pecuária de leite em 2000 e, desde 2005, concentra a produção em vacas Jersey.
A volta dos filhos também é datada por trajetórias: Betânia se formou em zootecnia em 2018 e passou a dividir a ordenha com o marido; Gabriel, formado em engenharia elétrica, deixou o trabalho urbano e assumiu rotinas do trato; Natália, formada em gestão ambiental, cursa nutrição e atua no dia a dia. O resultado é uma fazenda com leite, queijo, café e galinhas caipiras como frentes de renda.
A fazenda e a divisão de tarefas que sustenta o retorno
A propriedade é a Chácara São Roque, em Patrocínio, e a dinâmica descrita é de agricultura familiar, com tarefas distribuídas para evitar sobreposição de rotinas. O pai, Marquinho, afirma que passou a pecuária leiteira para os filhos e direcionou sua energia para a avicultura, enquanto mantém presença na gestão geral da fazenda.
O relato aponta um ponto incomum no meio rural: casal vira caso raro na roça não por romantização, mas porque o retorno dos filhos aconteceu depois da formação e com reorganização de trabalho. A ordenha ficou sob responsabilidade direta de Betânia e do marido, enquanto Gabriel assumiu alimentação do gado e logística diária, e Natália participa da limpeza e da organização, além de acompanhar demandas ligadas a manejo e ambiente.
Leite de vacas Jersey: rotina, volume e qualidade remunerada
A ordenha ocorre duas vezes ao dia. Pela manhã, o início é às 5h, com término por volta de 7h30 a 8h; à tarde, começa às 15h e vai até perto de 17h. O volume citado é de aproximadamente 500 litros por dia, com rotina estável e cobertura dos irmãos quando o casal precisa se ausentar.
A base descreve que a produção depende de silagem de milho e ração comercial durante a ordenha, com ajuste individual por vaca conforme produção e estágio de lactação. O manejo destacado como regra é sem ocitocina e sem hormônio BST, com ordenha baseada no comportamento do rebanho e na previsibilidade da rotina. A família associa a raça a docilidade, longevidade e eficiência, e reforça que a composição do leite ajuda na remuneração quando a indústria valoriza gordura e proteína.
Para o pagamento, o argumento apresentado é técnico: o leite das vacas Jersey chega a cerca de 5% de gordura, com proteína alta, o que pode gerar bonificação quando a indústria pontua qualidade. A família também relata rendimento na transformação: cerca de 6 litros para 1 kg de queijo, comparando com sistemas que gastariam mais litros em outras raças.
Queijo, soro e comercialização: ajuste fino entre demanda fixa e laticínio
A estratégia descrita é “meio a meio”: parte do leite vira queijo e o excedente segue para o laticínio. A família relata uma conquista recente ao fornecer para a Nestlé, com relacionamento em torno de oito meses no momento do depoimento, o que permite alternar volumes conforme a semana e aliviar carga de trabalho em dias de maior demanda.
A produção diária de queijo é apresentada como variável, mas com referência operacional clara: cerca de 20 unidades por dia quando a demanda pede. Há controle por lotes e tempo de maturação, com rotina de lavar, virar, higienizar e separar queijos por dias de fabricação para atender preferências do comprador, incluindo público que busca queijo mais fresco e clientes que pedem maturação mais longa.
O soro, que seria descartado, entra como insumo zootécnico. A família relata uso em bezerros: são 12 animais até 90 dias, com fornecimento de 6 litros de leite por dia e complemento de soro após adaptação alimentar. O objetivo declarado é reduzir descarte e aproveitar o valor nutritivo do soro sem criar problemas de manejo.
Café: calendário de safra, manejo e histórico de qualidade
O calendário do café é tratado com datas práticas. A colheita começa no início de julho e termina no início de setembro, e a florada é citada em outubro, com avaliação do pegamento mais confiável após cerca de 45 dias, já mirando o fim de dezembro como janela de leitura do chumbinho. A família afirma que a escolha pelo café veio da história familiar e que a propriedade, por ser pequena, precisa de combinação de atividades.
O relato inclui histórico: a entrada no café ocorreu em 1995, e o leite entrou como alternativa para áreas não disponíveis para cafeicultura. O manejo é associado a uso de esterco do rebanho, com volume citado de cerca de 60 toneladas por ano aplicado nas lavouras, integrando custos e reduzindo dependência externa.
Na comercialização, a base descreve duas frentes: exportação e venda direta ao consumidor. Há menção a premiações desde 2016, com café chegando perto de 90 pontos, e oferta em grãos ou moído, com torra média e notas sensoriais citadas como amendoim, pamonha e cítrico. O envio para outros estados é feito via Correios, com demanda crescente fora do município.
Galinhas caipiras selecionadas: genética, escala e renda paralela
A avicultura aparece como a “nova ocupação” do pai após a redistribuição da ordenha. O sistema descrito é de galinhas caipiras selecionadas geneticamente, com divisão por idade e separação de machos e fêmeas para manejo de corte e postura. O produtor relata que não trabalha com índio gigante como padrão, e sim com linhagens melhoradas para adaptar a espaços menores e entregar crescimento e postura.
A operação é descrita em camadas: pintinhos passam por maternidade com aquecimento, ficam cerca de 10 dias protegidos de corrente de ar e depois seguem para baias por idade. A incubação entra em ciclos de 23 a 25 dias, formando lotes escalonados. A escala citada é de 700 a 800 cabeças, somando todas as categorias, com venda de ovos para consumo, ovos e frangas para reprodução, pintinhos e aves para abate.
O mercado local é descrito como favorável porque a região é dominada por lavouras de café, com menor oferta de criatórios, o que amplia procura por genética e por frango caipira. A renda, segundo o relato, vem do giro rápido e da venda por idade, com diferenciação entre linha “selecionada” e linha “convencional” para consumo.
Por que o casal vira caso raro na roça virou uma gestão de risco e não só uma escolha
O caso descrito se sustenta por dois mecanismos mensuráveis. Primeiro, diversificação com integração entre cadeias: o leite sustenta o fluxo diário, o café concentra a renda de safra, o queijo agrega valor com clientela fixa e as galinhas caipiras geram giro com múltiplos produtos. Segundo, especialização dentro da família, com formação técnica aplicada na rotina e divisão clara de tarefas.
Ao repetir a lógica do relato, casal vira caso raro na roça porque o retorno dos filhos ocorreu com planejamento de operação, não como improviso. O trabalho continua pesado, mas a organização reduz vulnerabilidades típicas de pequenas propriedades, como falta de mão de obra, dificuldade de escoamento e dependência de um único produto.
A história mostra que permanência no campo pode ser uma decisão econômica quando a propriedade tem números, rotina e produtos com mercado definido. O passo seguinte, citado pela família, é estruturar melhorias de alimentação e infraestrutura, avançar no registro da queijaria com apoio técnico e manter o controle de qualidade que sustenta leite, queijo, café e galinhas caipiras.
Conte nos comentários qual parte dessa estratégia você considera mais difícil de replicar na prática: organizar mão de obra familiar, diversificar renda, ou manter padrão de qualidade?

