O golpe da biometria usa biometria facial como “chave” para liberar empréstimos consignados, financiar carros e assinar contratos sem que a vítima perceba, inclusive em falsas visitas do SUS e entrevistas de emprego.
O golpe da biometria está avançando porque a biometria facial virou atalho de segurança para bancos e assinaturas digitais, e criminosos estão explorando a confiança das pessoas para capturar esse reconhecimento sem consentimento real. Hoje, o rosto vira senha, e uma abordagem “inofensiva” pode abrir portas para empréstimos, financiamentos e contratos.
A base mostra dois roteiros comuns: a falsa visita de agentes de saúde, com jaleco e plancheta, e a falsa entrevista de emprego, com promessa de benefícios. Em ambos, a foto não é “só uma foto”.
É a validação biométrica acontecendo escondida, com consequências que só aparecem quando o desconto ou o boleto já está no aplicativo do banco.
Por que o golpe da biometria funciona tão bem com biometria facial
A biometria facial foi criada para aumentar a segurança no mundo digital e passou a ser usada com mais frequência a partir de 2020, inclusive para assinatura de documentos.
Ela é considerada uma tecnologia segura porque leva em conta medidas de vários pontos do rosto.
O problema é que o golpe da biometria não depende de quebrar o sistema por força bruta. Ele depende de enganar a vítima para que ela mesma “entregue” a validação. É engenharia social, não mágica.
Caso 1: falsas agentes de saúde e empréstimos consignados no nome de idosa
Em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, duas mulheres foram filmadas na frente de um prédio. Uma delas usava jaleco.
As falsas agentes de saúde disseram que a visita domiciliar serviria para antecipar uma cirurgia pelo SUS já agendada, e a vítima abriu o portão sem desconfiar.
No apartamento, elas fingiram tirar uma foto, mas na prática fizeram o reconhecimento facial. Com biometria e dados coletados, contrataram empréstimos consignados sem que a idosa percebesse. Segundo a base, o total chegou a R$ 30.000.
A Polícia Civil identificou e prendeu as duas mulheres, citadas como Joy Cimelo dos Santos e Denise Silveira Pinheiro. Na casa de Denise, policiais encontraram um jaleco. As duas foram reconhecidas por três vítimas.
A Prefeitura de São Bernardo do Campo alertou que agentes comunitários de saúde não realizam filmagens ou fotografias do rosto, não solicitam impressão digital durante visitas e não coletam dados biométricos.
O impacto vai além do susto. A base relata vítimas que não conseguem suspender os descontos mensais do consignado, com caso de aposentadoria de R$ 1.518 reduzida para R$ 300 após descontos.
Caso 2: falsa entrevista de emprego e contratos assinados sem a vítima saber
No Sul do Brasil, outras quadrilhas aplicaram o golpe da biometria em pessoas que buscavam emprego. A vítima acreditava estar sendo fotografada para cadastro da empresa, mas na verdade estava assinando documentos eletronicamente via biometria facial.
Um morador de Florianópolis achou que a foto era para anexar à vaga de motorista. A base afirma que o resultado foi um financiamento de carro em nome da vítima, perto de R$ 69.000, com valores indo para conta criada pelos próprios criminosos.
Nesse caso, a vítima conseguiu falar com o banco a tempo de suspender o financiamento, segundo a base.
Em Guarapuava, no Paraná, uma mulher recebeu proposta de emprego de uma suposta empresa de recursos humanos. Durante a entrevista, pediram uma foto.
No dia seguinte, ela viu no aplicativo do banco um boleto de cerca de 2.300 e descobriu um financiamento de carro em seu nome de R$ 170.000.
A base aponta prisão em flagrante de Rafael Bueno Carneiro e Mateus Ramos de Carvalho aplicando o mesmo golpe em outra vítima, além de indiciamento de donos de duas revendedoras usadas para receber transferências dos financiamentos.
Como se proteger do golpe da biometria no dia a dia
Alguns cuidados reduzem muito o risco, sem depender de “conhecer tecnologia”:
Desconfie de pedidos de foto do rosto fora do contexto
Se a pessoa pede que você fique “de pé na frente do celular” para foto, filmagem ou “cadastro”, trate como alerta máximo.
Não aceite validação biométrica em abordagens improvisadas
Visita domiciliar, entrevista informal, promessa de benefícios, urgência e pressão para “ser rapidinho” são o cenário perfeito para o golpe da biometria.
Confirme por canais oficiais antes de permitir qualquer registro
No caso de saúde, a própria Prefeitura de São Bernardo do Campo reforça que agentes comunitários não fazem foto do rosto nem coletam biometria em visitas.
Evite fazer biometria facial por solicitação de terceiros
A base mostra vítimas dizendo que ficaram com trauma e que não aceitam mais tirar foto quando pedem.
O que fazer se você já caiu no golpe da biometria
Sem prometer resultado, estes passos ajudam a reagir rápido:
Registre o ocorrido e reúna evidências
Anote data, local, abordagem, mensagens, prints do aplicativo e qualquer dado da transação.
Procure imediatamente o banco e conteste as operações
A base cita que cada instituição tem política própria de análise e devolução, baseada em análise individual e evidências apresentadas.
Acione a Polícia Civil e acompanhe a investigação
A base descreve investigações em andamento para identificar outros envolvidos.
Alerte familiares, especialmente idosos
O golpe da biometria tem forte componente de confiança e tende a mirar quem abre a porta, aceita ajuda e acredita em promessa de serviço.
Você acha que o golpe da biometria vai diminuir com mais informação e proteção dos bancos, ou vai continuar crescendo porque o rosto virou a nova senha?

