Enquanto o fim do ar-condicionado caro ainda depende de escala, quatro tecnologias já prometem resfriar casas com menos luz: teto radiante com água fria, Caeli One francês, resfriamento elastocalórico com metais e ar do subsolo geotérmico da USP, reduzindo consumo de energia e desafiando o domínio dos aparelhos de refrigeração tradicionais
Em 12 de fevereiro de 2025, uma reportagem reuniu, em um só panorama, quatro soluções que apontam para o possível fim do ar-condicionado caro ao mostrar alternativas capazes de climatizar ambientes com muito menos consumo de energia elétrica, mais conforto e foco em sustentabilidade. São tecnologias que vão do teto radiante com água fria a sistemas geotérmicos que puxam o ar fresco do subsolo.
No centro dessa virada estão equipamentos e pesquisas que dispensam ou reduzem drasticamente o uso de gases refrigerantes e apostam em princípios físicos conhecidos, porém aplicados de forma inovadora. O objetivo comum é derrubar a conta de luz sem abrir mão do conforto térmico, aproximando a climatização doméstica e predial de uma nova geração mais eficiente, silenciosa e ambientalmente responsável.
Por que se fala em fim do ar-condicionado caro
O ar-condicionado tradicional segue sendo uma das soluções mais usadas em regiões quentes, mas seu consumo elevado de energia pesa diretamente na fatura mensal e pressiona sistemas elétricos já sobrecarregados. Em muitas cidades, ondas de calor fazem disparar o uso dos aparelhos exatamente nos horários de pico, cenário que tende a se agravar com as mudanças climáticas.
Nesse contexto, o debate sobre o fim do ar-condicionado caro ganha força sempre que surgem alternativas que prometem entregar a mesma sensação de conforto com menos watts por metro quadrado. As quatro tecnologias destacadas combinam conceitos de radiação térmica, resfriamento evaporativo, ligas metálicas inteligentes e uso do ar do subsolo, com uma agenda clara de eficiência energética e redução de emissões.
Teto radiante: água fria circulando acima da cabeça
Uma das soluções mais maduras é o teto radiante, que usa painéis com tubos de água em baixa temperatura instalados no teto para aquecer ou resfriar ambientes. Em vez de soprar ar frio, o sistema trabalha por radiação térmica, trocando calor com o espaço de forma mais uniforme e estável.
Na prática, isso significa menos correntes de ar, menos ruído e uma sensação térmica mais homogênea, sem jatos gelados diretos sobre as pessoas. O teto radiante se destaca pelo menor consumo de energia em comparação a sistemas convencionais, operação silenciosa, visual discreto e baixa necessidade de manutenção, características que o tornam especialmente interessante para edifícios corporativos e residenciais de alto padrão.
Para quem busca o fim do ar-condicionado caro em grandes projetos, o teto radiante aparece como uma peça importante, sobretudo quando combinado a fontes de água resfriada mais eficientes e a estratégias arquitetônicas que favoreçam a inércia térmica dos prédios.
Caeli One: equipamento francês que usa água e resfriamento adiabático
Outra frente promissora vem da startup francesa Caeli Energie, com o equipamento Caeli One, projetado para consumir até cinco vezes menos energia que um ar-condicionado tradicional. Em vez de compressor e gás refrigerante, o aparelho usa resfriamento adiabático e evaporação de água, reduzindo em cerca de 80% as emissões de carbono associadas à climatização.
Com cerca de 2,5 metros de altura, o Caeli One foi dimensionado para resfriar áreas entre 20 e 40 metros quadrados, faixa típica de salas e pequenos cômodos. O custo inicial, estimado entre 2.500 e 3.000 euros, ainda é alto para o padrão brasileiro, mas a economia de energia ao longo dos anos pode compensar o investimento em projetos que buscam romper com a lógica do ar-condicionado convencional.
Ao eliminar gases refrigerantes e depender basicamente de água e de um desenho eficiente de circulação de ar, o equipamento se encaixa na narrativa do fim do ar-condicionado caro, especialmente em regiões de clima seco onde o resfriamento evaporativo apresenta desempenho superior.
Resfriamento elastocalórico: metais inteligentes como “motor” de frio
No campo da pesquisa, cientistas da Universidade de Hong Kong trabalham com o chamado resfriamento elastocalórico, tecnologia apontada como até 48% mais eficiente que os sistemas de ar-condicionado convencionais. Em vez de gás, o sistema usa ligas metálicas especiais que mudam de temperatura quando são comprimidas ou tracionadas, liberando ou absorvendo calor conforme o ciclo mecânico aplicado.
Essa abordagem dispensa completamente gases refrigerantes, considerados problemáticos tanto pelo impacto climático quanto pelos riscos em caso de vazamentos. Os metais inteligentes fazem o papel de “fluido” térmico sólido, permitindo que o calor seja retirado de um ambiente e dissipado em outro com menos perdas e maior controle.
Além da climatização de ambientes, os pesquisadores apontam que o resfriamento elastocalórico pode melhorar a gestão térmica de baterias de carros elétricos, aumentando desempenho e vida útil. Se chegar ao mercado em escala industrial, a tecnologia reforçará o movimento em direção ao fim do ar-condicionado caro, oferecendo mais eficiência com menor pegada ambiental.
Ar do subsolo: sistema geotérmico desenvolvido pela USP
A quarta frente é o uso do ar do subsolo como fonte de resfriamento, em conceito geotérmico desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP). A ideia parte de um fato físico simples: o ar em túneis ou dutos enterrados tende a manter temperatura mais baixa e estável do que o ar da superfície, especialmente durante ondas de calor.
O sistema criado pela USP usa cabos ou dutos enterrados para captar esse ar mais fresco, que depois é conduzido para o interior dos prédios, reduzindo a carga térmica que precisa ser compensada por equipamentos ativos. Em testes e aplicações em prédios comerciais e hospitais, a tecnologia geotérmica chegou a reduzir o consumo de energia em até 60%, índice significativo para grandes consumidores.
Experiências semelhantes já foram implementadas em países como Alemanha e Suíça, mas, no Brasil, o desafio é tornar o sistema economicamente viável em escala, considerando custos de instalação, características do solo e necessidade de obras estruturais. Mesmo assim, o conceito reforça que o fim do ar-condicionado caro pode passar por soluções que exploram melhor as condições naturais do próprio terreno.
Obstáculos, custos e próximos passos antes de aposentar o ar-condicionado
Apesar do potencial, nenhuma das quatro tecnologias elimina, por enquanto, todos os problemas de custo e acesso. O teto radiante demanda projetos integrados desde a construção ou reformas profundas. O Caeli One ainda tem preço elevado em euro, o resfriamento elastocalórico está em fase de pesquisa e o ar do subsolo geotérmico da USP precisa vencer barreiras de custo inicial e regulamentação.
Por outro lado, o cenário é claro: quanto mais essas soluções forem adotadas em edifícios comerciais, residenciais e hospitais, maior será a pressão para baratear tecnologias e reduzir a dependência do ar-condicionado tradicional. Em um horizonte de médio prazo, a combinação de sistemas passivos, água, ar do subsolo e metais inteligentes pode se tornar a base da climatização de cidades em um planeta mais quente.
Enquanto esse futuro não chega completamente, o debate sobre o fim do ar-condicionado caro serve como guia para políticas públicas, inovação e escolhas de consumidores que já começam a olhar além do aparelho pendurado na parede.
Diante dessas quatro tecnologias, qual delas você vê como mais realista para substituir primeiro o ar-condicionado tradicional na sua casa ou no prédio onde você trabalha?

