Mesbla, Arapuã e Mappin foram gigantes que dominaram o Brasil por décadas, mas não resistiram às mudanças econômicas e à má gestão que levaram ao colapso.
Quem viveu o século passado certamente se lembra das vitrines imponentes e dos carnês que facilitavam sonhos de consumo em todo o território nacional. Empresas como Mesbla, Arapuã e Mappin não eram apenas lojas de varejo, eram verdadeiras instituições e gigantes que dominaram o Brasil antes da virada do milênio. Elas vendiam uma variedade impressionante de itens, desde roupas e eletrodomésticos até veículos e aviões, moldando o comportamento de compra de milhões de brasileiros durante quase um século.
No entanto, por trás do sucesso estrondoso e da expansão acelerada, escondiam-se problemas estruturais graves e desafios financeiros crescentes. A incapacidade de adaptação à abertura de mercado nos anos 90, somada a crises econômicas, planos governamentais drásticos e gestões fraudulentas, levou esses impérios à ruína total. O que restou dessas gigantes que dominaram o Brasil foram dívidas bilionárias, prédios vazios e uma memória afetiva que ainda persiste na cultura popular.
Mesbla: do nome francês à venda de aviões
A história da Mesbla começou em 1912 como uma filial de uma empresa francesa, mas ganhou identidade nacional em 1939 para evitar associações com a França durante a Segunda Guerra Mundial. A marca se tornou uma potência, chegando a ter 180 pontos de venda e quase 30 mil funcionários no seu auge. A empresa vendia desde roupas até aviões e barcos, além de operar no setor financeiro e até importar mercadorias da China, o que foi notícia no The New York Times.
Apesar de ter sido eleita a melhor empresa do Brasil pela revista Exame em 1986, a Mesbla sofria com uma estrutura burocrática lenta, com mais de 40 diretores. Tentativas de inovação, como a importação de máquinas fotográficas soviéticas de baixa qualidade, acabaram prejudicando sua imagem. Com a chegada do Plano Real e a abertura para importados, a concorrência de marcas internacionais e a falta de agilidade derrubaram uma das gigantes que dominaram o Brasil, levando-a a acumular dívidas superiores a R$ 1 bilhão.
Arapuã: a rainha dos eletrodomésticos
Diferente da sofisticação da Mesbla, a Arapuã nasceu no interior de São Paulo em 1957, focada inicialmente em tecidos. O fundador Jorge Wilson Simeira Jacob percebeu o potencial dos eletrodomésticos e revolucionou o mercado ao criar o crediário próprio. O slogan “Arapuã, ligadona em você” marcou gerações, e a empresa chegou a faturar R$ 2,2 bilhões em 1996, tornando-se a maior varejista do país após se especializar exclusivamente em eletrodomésticos e fechar lojas para ganhar eficiência.
Contudo, a dependência do crédito foi sua ruína. A crise dos tigres asiáticos em 1997 fez o governo aumentar os juros, o que explodiu a inadimplência dos clientes. Como 75% do faturamento vinha das vendas a prazo, o fluxo de caixa secou. A Arapuã, uma das gigantes que dominaram o Brasil, viu seus estoques encalharem e não conseguiu pagar fornecedores, entrando em concordata em 1998 e falindo oficialmente anos depois com um rombo bilionário.
Mappin: da elite à classe média
O Mappin trouxe o conceito de loja de departamentos inglesa para o Brasil em 1913, introduzindo inovações como vitrines e a exposição livre de produtos. Inicialmente focado na elite e nos Barões do Café, um incêndio em 1922 e a crise de 1929 forçaram a loja a se democratizar, colocando preços nas vitrines e atraindo a classe média. Frequentar o Mappin era sinônimo de status, com seus salões de chá e edifícios imponentes no centro de São Paulo.
Sob a gestão da família Alves, a empresa lançou seu próprio carnê de crédito em 1964 e viveu uma era de ouro nos anos 70 e 80.
Porém, nos anos 90, os altos custos operacionais e a concorrência moderna minaram suas finanças. Em 1995, o Mappin teve o maior prejuízo de sua história, provando que até as gigantes que dominaram o Brasil não estavam imunes à má gestão e às mudanças no perfil do consumidor.
O fim trágico nas mãos de Ricardo Mansur
O destino final de Mesbla e Mappin se cruzou nas mãos do empresário Ricardo Mansur. Ele adquiriu ambas as redes na tentativa de fundir as operações e salvá-las, mas a estratégia foi um desastre. Mansur foi acusado de divulgar informações falsas e cometer fraudes, incluindo o desvio de mercadorias de uma loja para outra. Sem crédito e com a reputação destruída, as lojas fecharam as portas em 1999, deixando milhares de desempregados e encerrando o ciclo dessas gigantes que dominaram o Brasil.
Qual dessas lojas faz mais falta no dia a dia ou traz mais nostalgia para sua família?

