Relatos de brasileiros na Finlândia revelam solidão, depressão e desemprego no país mais feliz do mundo, mostrando como brasileiros na Finlândia enfrentam solidão, depressão e desemprego longe de casaRelatos de brasileiros na Finlândia revelam solidão, depressão e desemprego no país mais feliz do mundo, mostrando como brasileiros na Finlândia enfrentam solidão, depressão e desemprego longe de casa

Entre segurança, natureza e benefícios sociais, brasileiros na Finlândia descobrem o peso do silêncio, do inverno sem sol, da solidão e do desemprego, enfrentam depressão, choque cultural e decisões difíceis sobre ficar, voltar ou tentar recomeçar em outro país europeu gelado, mesmo com rede de proteção social considerada exemplo mundial

Há 8 anos seguidos, um ranking da ONU coloca a Finlândia no topo dos países mais felizes do mundo, mas para muitos brasileiros na Finlândia essa felicidade oficial convive com invernos longos, céu branco, ruas vazias, silêncio quase absoluto e uma solidão que, aos poucos, começa a pesar mais do que a segurança, a natureza preservada e os benefícios sociais garantidos pelo Estado.

Desde 2016, quando Babel trocou o Brasil por um bairro cinza em Helsinque, passando por Aim que chegou a Tampere em 2022 e por Gabriela que decide voltar ao Brasil após 4 anos e meio, os relatos de brasileiros na Finlândia expõem o outro lado do país mais feliz do mundo, marcado pela dificuldade para achar trabalho, pela barreira do idioma e por um choque cultural que exige reinventar a própria identidade para continuar.

O país mais feliz do mundo e a realidade dos brasileiros na Finlândia

Há 8 anos consecutivos, a Finlândia aparece no topo de um ranking da ONU que mede felicidade a partir de critérios como distribuição de renda, seguridade social e percepção de corrupção. Para os finlandeses, felicidade se aproxima mais de satisfação estável com a vida, baseada em segurança, confiança nas instituições, saúde pública universal, educação gratuita e licenças parentais generosas, do que da alegria explosiva associada ao estereótipo brasileiro.

Na prática, brasileiros na Finlândia descobrem que esse modelo oferece um piso sólido: uma rede de proteção social forte, capaz de amparar quem perde o emprego, adoece ou precisa estudar de novo. Ao mesmo tempo, muitos se perguntam se essa satisfação é realmente acessível a todos, especialmente a imigrantes que chegam em busca de futuro melhor e esbarram em desemprego prolongado, isolamento social e um clima que transforma meses em um túnel cinza de frio e pouca luz.

Frio, silêncio e a solidão que faz barulho na cabeça

Logo ao chegar, um dos primeiros choques para brasileiros na Finlândia é perceber que a natureza domina o cenário e, muitas vezes, a rua parece vazia. As paisagens quase sempre brancas ou acinzentadas, com poucas pessoas circulando, criam uma sensação de vazio que não existe em cidades brasileiras cheias de som, trânsito e conversa.

Babel, professor de português como língua de herança, conta que morava em um bairro onde podia caminhar um quilômetro encontrando apenas uma pessoa com cachorro. Em certo dia frio e escuro, ele percebeu um zumbido constante e descobriu que não vinha da rua, mas de dentro da própria cabeça. Era o silêncio absoluto do entorno, tão diferente do ruído permanente das grandes cidades brasileiras, que passou a “fazer barulho” por contraste.

A pintura de Rafael, batizada de “Saudade”, mostra paisagens finlandesas quase sem cor, com uma natureza discreta e silenciosa, que acolhe e, ao mesmo tempo, acentua a solidão. Nas telas, dominam o branco, um pouco de cinza, um toque de azul. As cores vivas do Brasil parecem ter ficado no passado. Para muitos brasileiros na Finlândia, essa sensação de conforto físico combinado com vazio afetivo é parte central da experiência.

Trabalho difícil, idioma complicado e reinvenção profissional obrigatória

Quando o assunto é emprego, o choque se torna ainda mais concreto. Aim vive em Tampere desde 2022 e conta que o mais difícil é a questão do trabalho, algo que muitos imigrantes só descobrem depois de chegar. A ideia de conseguir emprego falando apenas inglês cai rapidamente por terra, mesmo na capital, Helsinque, que nem é uma cidade tão grande e concentra a maior parte da população do país.

Com cerca de 5,5 milhões de habitantes, menos da metade da população da cidade de São Paulo, a Finlândia enfrenta hoje a maior taxa de desemprego em 15 anos, quase o dobro da brasileira, com impacto maior sobre estrangeiros. Aim está desempregada, mas consegue viver com auxílio em torno de 500 a 600 euros, enquanto o marido, Sam, faz mestrado e recebe um benefício estudantil menor do que o auxílio de desemprego. O casal paga as contas, mas vive em permanente estado de atenção, calculando até quando essa equação vai se sustentar.

Maria, em Helsinque há 3 anos, chegou aos 42 anos e ainda tenta se reinventar profissionalmente. Para trabalhar, precisa voltar a estudar, recomeçar uma trajetória que não imaginava reabrir depois dos 40. Ela relata medo de perder a sociabilidade tipicamente brasileira e admite que ficou mais contida, mais silenciosa, rindo menos alto e calculando cada palavra para evitar gafes. Entre brasileiros na Finlândia, histórias assim se repetem: segurança e estrutura existem, mas o preço cobrado é a reinvenção de carreira somada à sensação de estar sempre em adaptação.

Depressão no inverno e o limite do sonho de viver na Finlândia

O inverno é o limite para muitos brasileiros na Finlândia. Gabriela decidiu voltar ao Brasil com o marido e a filha antes do Natal, encerrando um ciclo de 4 anos e meio no país. Ela relata que, logo no primeiro inverno, entrou em um estado de depressão profundo, o primeiro de sua vida, algo que nunca havia acontecido no Brasil, e que desde então a depressão retornava a cada inverno.

Com dias curtos, temperatura negativa, neve constante e pouca luz, o inverno é descrito como muito solitário, muito escuro, com uma sensação de isolamento difícil de explicar. Arrumar malas, reorganizar a vida e aceitar voltar passa a parecer menos doloroso do que enfrentar mais meses de escuridão. O país mais feliz do mundo, na prática, pode se tornar insuportável para quem mede felicidade por calor humano, barulho de rua, encontros espontâneos e apoio da família próxima.

Pequenas cidades, grandes vazios e um senso de comunidade que não vem

Fora da capital, o contraste é ainda maior. Em uma cidade finlandesa de cerca de 36 mil habitantes, no centro do país, o cenário típico é de ruas com neve, poucos pedestres, céu cinza e temperatura próxima de zero ou abaixo. São 10h30 da manhã, sensação de −2º, neve acumulada e quase ninguém circulando. A impressão é de calmaria total, quase suspensão da vida cotidiana que brasileiros associam a bairros cheios e barulhentos.

Uma brasileira que mudou para lá com duas filhas pequenas conta que a maior preocupação, no início, não era o frio ou o idioma, e sim como garantir o básico, o “leite das crianças”, em meio a cidades pequenas e distantes entre si, separadas por longos trechos de floresta. Ela descreve um país com poucas áreas urbanizadas, muitas localidades isoladas e ausência daquele senso de comunidade que o brasileiro aprende desde criança, com vizinhos presentes e redes de apoio informais.

O relato de que levou três anos para ver o vizinho de porta, e que ele esperava o corredor esvaziar para não encontrar ninguém frente a frente, resume a sensação de distanciamento. Em muitos prédios, cumprimentar desconhecidos no corredor ou puxar conversa no elevador soa estranho. Para brasileiros na Finlândia, acostumados a relações mais expansivas, esse tipo de interação contida reforça a percepção de que estão sempre ocupando um espaço alheio, e não um bairro realmente seu.

Solidão como epidemia global e o peso extra sobre imigrantes

A solidão não é exclusividade dos brasileiros na Finlândia. A própria Organização Mundial da Saúde trata o isolamento social como um problema de saúde pública global, associado a aumento de doenças cardiovasculares, AVC, declínio cognitivo e cerca de 100 mortes por hora no mundo. Países como Reino Unido e Japão já criaram políticas específicas para enfrentar o problema.

Na Finlândia, quase 60% da população diz se sentir só, nem que seja de vez em quando, com relatos mais fortes entre pessoas de menor renda. O país tem cerca de 47% dos domicílios formados por pessoas que moram sozinhas, quase metade de todas as casas, enquanto no Brasil o índice não chega a 20. Viver sozinho está se tornando mais comum nos dois países, mas o significado dessa solidão varia conforme a cultura, as expectativas e o tipo de vida social que cada um considera normal.

Especialistas lembram que finlandeses tendem a se sentir mais confortáveis morando sozinhos do que pessoas de culturas onde o convívio intenso é parte central da ideia de felicidade. Para brasileiros na Finlândia, acostumados a grandes redes sociais presenciais, adaptar-se a um padrão mais contido pode ser particularmente difícil, sobretudo quando o clima e o idioma já colocam barreiras adicionais ao pertencimento.

Quando a vida dá certo na Finlândia e quando o preço parece alto demais

Nem todos os relatos de brasileiros na Finlândia são de fracasso ou retorno. Há quem diga que encontrou um lugar estável, com trabalho alinhado ao que gosta de fazer, uma família com três filhos e relações sociais fora do emprego que sustentam uma rotina satisfatória. Nesses casos, a felicidade aparece como um estado mais discreto, baseado em segurança e previsibilidade, sem a oscilação entre euforia e raiva tão comum na descrição de brasileiros.

Um jovem que chegou ainda no ensino médio conta que teve tempo de construir amizades com finlandeses e colegas de faculdade, o que facilitou encontrar seu lugar. Outro afirma que enxerga a solidão como um sentimento que vai e vem, assim como fome ou sono, e não como um estado permanente. Essas histórias mostram que o país oferece boas condições para quem consegue atravessar as fases críticas de adaptação, aprender o idioma e aceitar uma sociabilidade menos intensa.

Ainda assim, a pergunta que fica para muitos é se vale a pena insistir em um lugar onde o trabalho é raro, a estabilidade demora a chegar e a solidão se torna uma companhia constante, mesmo em meio a benefícios concretos e ruas seguras. Entre ficar e voltar, o ponto de equilíbrio parece depender da capacidade de cada um de reconstruir laços, redes e identidade longe de casa.

Diante desse contraste entre rankings de felicidade e relatos de solidão, na sua opinião brasileiros na Finlândia deveriam insistir mais tempo na adaptação ou considerar voltar ao Brasil quando percebem que o preço emocional do frio, do silêncio e do desemprego está ficando alto demais?

Autor

  • Bruno Teles

    Falo sobre tecnologia, inovação, automotivo e curiosidades. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro.
    Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil.
    Alguma sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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