Cidades do petróleo concentram riqueza concentrada, indústria extrativa e royalties do petróleo, liderando o PIB per capita entre os municípios do Brasil.Cidades do petróleo concentram riqueza concentrada, indústria extrativa e royalties do petróleo, liderando o PIB per capita entre os municípios do Brasil.

Impulsionadas pela indústria extrativa de petróleo e gás, cidades do petróleo como Saquarema, Maricá, São Francisco do Conde e Paulínia exibem PIB per capita gigantesco, bilhões em royalties e concentração extrema de riqueza, muito acima da média nacional e distante das grandes capitais tradicionais na disputa por relevância econômica atual

Os dados de 2023 divulgados pelo IBGE mostram que as cidades do petróleo puxam, com folga, os maiores PIBs per capita do Brasil. Saquarema (RJ), São Francisco do Conde (BA), Maricá (RJ), Paulínia (SP), Presidente Kennedy (ES) e Ilhabela (SP) transformam a extração e o refino de petróleo em rendas por habitante que deixam a média nacional no chinelo. Enquanto o PIB per capita do país ficou em R$ 51.693,92 em 2023, essas cidades chegam a patamares acima de R$ 700 mil por morador.

Ao mesmo tempo, o recorte entre 2002 e 2023 revela que a geografia da riqueza mudou: as capitais perderam espaço relativo no PIB dos municípios, caindo de mais de um terço da economia (36,1%) em 2002 para 27,5% em 2022, antes de uma leve recuperação a 28,3% em 2023. Entre 2020 (29,7%) e 2022 (27,5%), a queda foi ainda mais acentuada, num movimento de desconcentração impulsionado pelo avanço das atividades extrativas e industriais fora dos grandes centros.

PIB per capita explode nas cidades do petróleo

No ranking de 2023, as seis maiores rendas por habitante do Brasil estão ligadas, direta ou indiretamente, às cidades do petróleo e à cadeia de energia. Os números do IBGE mostram o seguinte topo da lista:

Saquarema (RJ) – R$ 722.441,52
São Francisco do Conde (BA) – R$ 684.319,23
Maricá (RJ) – R$ 679.714,48
Paulínia (SP) – R$ 606.740,73
Presidente Kennedy (ES) – R$ 537.982,68
Ilhabela (SP) – R$ 424.535,26
Santa Rita do Trivelato (MT) – R$ 409.443,67
Louveira (SP) – R$ 388.732,46
São João da Barra (RJ) – R$ 382.417,42
Extrema (MG) – R$ 377.790,63

Na média, o Brasil produziu R$ 10,9 trilhões em bens e serviços finais em 2023, divididos por uma população estimada em 207,8 milhões de habitantes, o que resulta nos R$ 51.693,92 por pessoa. Quando se olha para as cidades do petróleo, porém, a fotografia muda completamente: a renda per capita dispara, impulsionada por atividades de alto valor agregado concentradas em poucos municípios.

Mesmo fora do circuito direto das cidades do petróleo, o topo do ranking ainda traz casos de forte especialização produtiva. Santa Rita do Trivelato (MT), por exemplo, é um polo agrícola focado em soja, milho e algodão, com PIB per capita de R$ 409.443,67 em 2023, mostrando como produção agropecuária em larga escala também cria ilhas de riqueza.

Bilhões em royalties concentram riqueza em poucos municípios

Entre as cidades do petróleo, Saquarema e Maricá são símbolos de como os royalties mudam o patamar de arrecadação local. Dados da ANP mostram que, em 2023, Saquarema recebeu R$ 1,33 bilhão em royalties, enquanto Maricá ficou com R$ 1,03 bilhão. Juntas, essas duas cidades responderam por uma parcela relevante dos R$ 6,04 bilhões distribuídos a todos os municípios.

Em outras palavras, uma fatia significativa do dinheiro gerado pela extração e produção de petróleo se concentra em muito poucas cidades do petróleo, criando orçamentos municipais inflados diante do restante do país. Esses bilhões em royalties ajudam a explicar por que o PIB per capita salta tanto nesses locais, mesmo com populações relativamente pequenas.

São João da Barra (RJ), que aparece na nona colocação do ranking de PIB per capita, reforça a tese da concentração: além da cadeia de petróleo e gás, a cidade é beneficiada por grandes projetos de infraestrutura, que ampliam a base produtiva e consolidam ainda mais a economia regional.

Indústria extrativa puxa a economia e sente impacto dos preços internacionais

O IBGE destaca que a indústria extrativa é o grande motor das cidades do petróleo. A extração e o refino de petróleo aparecem como a principal atividade econômica nos municípios com maior renda por habitante do Brasil. Isso vale para Saquarema, São Francisco do Conde, Maricá, Paulínia, Presidente Kennedy, Ilhabela e também para São João da Barra.

Segundo o analista de contas regionais Luiz Antonio de Sá, muito dessa influência vem da concentração das atividades extrativas em poucos municípios, o que naturalmente eleva o PIB local e, portanto, o PIB per capita. Porém, o setor também é altamente sensível ao cenário externo. Em 2023, a redução dos preços internacionais do petróleo e do minério de ferro teve efeito predominante no resultado das indústrias extrativas: houve queda de 22,7% nos preços, apesar de um aumento de 9,2% no volume produzido.

Isso significa que mesmo com mais petróleo e minério saindo do chão, as cidades do petróleo podem ver suas receitas pressionadas quando a cotação internacional recua. Essa volatilidade ajuda a entender por que algumas dessas economias, embora muito ricas em termos per capita, também estão expostas a choques de mercado.

Capitais perdem terreno, mas gigantes ainda lideram o PIB nacional

Enquanto as cidades do petróleo se destacam pelo PIB per capita, o mapa das maiores participações absolutas no PIB nacional ainda é dominado por grandes centros urbanos e polos de serviços e indústria. Em 2023, São Paulo foi responsável por R$ 1,07 trilhão, o equivalente a 9,75% de toda a riqueza gerada no país.

Na sequência, aparecem:

Rio de Janeiro (RJ) – R$ 418,5 bilhões (3,82%)
Brasília (DF) – R$ 365,7 bilhões (3,34%)
Maricá (RJ) – R$ 134,1 bilhões (1,23%)
Belo Horizonte (MG) – R$ 130,2 bilhões (1,19%)
Manaus (AM) – R$ 127,6 bilhões (1,17%)
Curitiba (PR) – R$ 120,1 bilhões (1,1%)
Osasco (SP) – R$ 119,4 bilhões (1,09%)
Porto Alegre (RS) – R$ 104,7 bilhões (0,96%)
Guarulhos (SP) – R$ 97,5 bilhões (0,89%)

Mesmo assim, capitais e grandes centros vêm perdendo espaço relativo na economia, principalmente frente a cidades altamente especializadas. Entre 2020 e 2022, a participação das capitais no PIB dos municípios caiu de 29,7% para 27,5%. Em 2023, houve leve recuperação para 28,3%, ainda abaixo do patamar pré-pandemia e bem distante dos 36,1% observados em 2002.

Quando até cidades do petróleo perdem participação no bolo nacional

Um dado importante do levantamento é que todas as sete cidades que reduziram participação no PIB nacional têm economia ligada à extração de petróleo. A lista é liderada por Maricá (RJ), cuja fatia na economia do país caiu de 1,6% para 1,2%. Na sequência aparecem Niterói (RJ), Saquarema (RJ), Ilhabela (SP), Campos dos Goytacazes (RJ), Paulínia (SP) e Itajaí (SC).

O movimento mostra que, mesmo entre as cidades do petróleo, a disputa por espaço no PIB é intensa. Flutuações de produção, mudanças regulatórias, dinâmicas de mercado e novos investimentos em outros municípios podem deslocar, ano a ano, a importância relativa de cada cidade na soma total da economia brasileira.

Segundo o IBGE, o período pós-pandemia intensificou a desconcentração, sobretudo por causa da redução da circulação de pessoas e das atividades presenciais nas capitais. Isso empurrou parte da atividade econômica para outros municípios, onde a indústria extrativa, a energia e o agronegócio têm peso maior.

Porto Velho, Maceió e o papel de outros setores além do petróleo

Na contramão da perda de participação das capitais, Porto Velho (RO) e Maceió (AL) foram as únicas capitais a ganhar espaço entre 2002 e 2023. No caso de Porto Velho, o crescimento está ligado à geração hidrelétrica; em Maceió, ao avanço da indústria de transformação.

Esses exemplos reforçam que, embora as cidades do petróleo concentrem boa parte da atenção e da renda per capita, outros tipos de especialização produtiva também conseguem reposicionar cidades no mapa do PIB. Hidrelétricas, complexos industriais, agronegócio em larga escala e hubs logísticos são alguns dos motores que competem com o petróleo na disputa por investimento, emprego e arrecadação.

Ao mesmo tempo, a presença de cidades como Santa Rita do Trivelato, Extrema, Louveira e Osasco entre os maiores PIBs per capita ou maiores participações no PIB nacional mostra que a economia brasileira está se espalhando por polos setoriais específicos, quebrando a ideia de que só capitais e metrópoles concentram riqueza.

Concentração extrema de riqueza e desafio de inclusão

Quando se coloca tudo na mesma fotografia, o resultado é claro: as cidades do petróleo exibem PIBs per capita estratosféricos e nadam em bilhões de royalties, enquanto a maior parte dos municípios brasileiros segue próxima da média nacional de pouco mais de R$ 50 mil por habitante.

Essa concentração em poucos municípios levanta questões sobre o modelo de distribuição de recursos e sobre como o país pode transformar riqueza localizada em desenvolvimento mais amplo. Municípios com orçamentos bilionários convivem com regiões que lutam para financiar serviços básicos, o que evidencia a distância entre o mapa da produção de riqueza e o mapa das necessidades sociais.

Diante desse cenário, fica a pergunta para você: o Brasil deveria repensar a forma como distribui royalties e investimentos, reduzindo a dependência das cidades do petróleo e espalhando melhor os frutos do PIB pelo país?

Autor

  • Maria Heloisa

    Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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