Brasil registra em 2024 o maior rendimento médio da história, R$ 3.208, segundo o IBGE, mas homens recebem 27% a mais que mulheres, brancos ganham 65,9% a mais que pretos e pardos e ocupações elementares mal alcançam metade da renda nacional, mostrando mercado de trabalho marcado por desigualdade no país.
Em 2024, o Brasil atingiu rendimento médio mensal de todas as fontes de R$ 3.208, o maior patamar da série iniciada em 2012, segundo a PNAD Contínua, divulgada pelo IBGE. O valor considera salários, aposentadorias, pensões, aluguéis, benefícios sociais, aplicações financeiras e outras fontes de renda que entram no bolso das famílias.
Por trás do recorde, o Brasil mantém um abismo salarial entre gênero, raça e tipo de ocupação. Os dados da Síntese de Indicadores Sociais mostram que, mesmo com o avanço da ocupação em 2024, homens, mulheres, brancos, pretos e pardos continuam vivendo realidades muito diferentes no mercado de trabalho.
Renda média do Brasil é recorde após anos de sobe e desce
De acordo com o portal do G1, o levantamento do IBGE mostra que a trajetória da renda no Brasil foi marcada por oscilações ao longo da última década. Em 2012, a renda média era de R$ 2.935. Entre 2012 e 2014 houve alta consistente, até atingir R$ 3.123, antes de a recessão derrubar a média para R$ 2.997 em 2017.
Em 2020, já sob efeito da pandemia, o rendimento chegou a R$ 3.152, mas recuou para R$ 2.888 em 2022.
A partir de 2023, com a recuperação econômica e reajustes salariais, a renda média do Brasil voltou a crescer, alcançando R$ 3.094 e chegando em 2024 ao recorde atual de R$ 3.208. No acumulado de 12 anos, o avanço real foi de 9,3%, mas a desigualdade seguiu firme.
Mesmo esse valor recorde esconde diferenças internas. Enquanto o Brasil aparece com uma média nacional, há trabalhadores muito acima desse patamar e uma parcela expressiva bem abaixo dele, especialmente em ocupações menos qualificadas.
Desigualdade entre homens e mulheres resiste mesmo com mais estudo
A SIS mostra que, em 2024, o Brasil registrou nível recorde de ocupação, com 101,3 milhões de pessoas trabalhando. Mesmo assim, a participação feminina seguiu menor. Apenas 49,1% das mulheres em idade ativa estavam ocupadas, contra 68,8% dos homens.
Quando conseguem emprego, as brasileiras continuam ganhando menos que os brasileiros. Em 2024, as mulheres receberam, em média, 78,6% do rendimento dos homens.
Em setores como serviços e comércio, a distância é ainda maior, e elas chegam a receber somente 63,8% do salário masculino, mesmo num contexto em que o Brasil tem mulheres com escolaridade maior que a dos homens.
Esses números indicam que o trabalho feminino no Brasil segue desvalorizado, mesmo com avanço da escolaridade e da presença das mulheres no mercado de trabalho.
Brancos ganham muito mais que pretos e pardos no Brasil
A mesma pesquisa reforça a desigualdade racial. Em 2024, pessoas brancas receberam em média 65,9% a mais que pessoas pretas ou pardas quando se considera o rendimento por hora trabalhada. Isso significa que, para cada real ganho por um trabalhador preto ou pardo, um trabalhador branco leva quase o dobro.
Mesmo entre quem tem nível superior completo, o Brasil não escapa desse abismo. A diferença de rendimento entre brancos e pretos ou pardos com diploma universitário chegou a 44,6%, mostrando que a escolaridade, sozinha, não é suficiente para eliminar o impacto da cor da pele na renda.
Essas distâncias revelam que, mesmo em um cenário de renda média em alta, uma grande parte da população preta e parda do Brasil permanece em desvantagem salarial em relação à população branca.
Topo da pirâmide concentra salários, base fica longe da média do Brasil
Os dados por grupos ocupacionais detalham como a renda se distribui entre as diferentes funções no Brasil. No topo estão diretores e gerentes, com rendimento médio de R$ 8.721 por mês, bem acima da média nacional de R$ 3.208.
Logo abaixo aparecem membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares, com renda média de R$ 6.749, e os profissionais das ciências e intelectuais, que recebem cerca de R$ 6.558.
São ocupações que costumam exigir alta qualificação ou oferecer estabilidade, fatores que ajudam a explicar os salários mais altos no Brasil.
Os técnicos e profissionais de nível médio ganham, em média, R$ 4.148, valor aproximadamente 29% acima da média nacional. Esse grupo intermediário reúne funções essenciais em áreas como saúde, educação e tecnologia, que têm mantido demanda elevada no Brasil.
Na base da pirâmide estão as ocupações de menor exigência de qualificação. As chamadas ocupações elementares têm rendimento médio de R$ 1.454 por mês, menos da metade da renda média do Brasil.
Entre os demais grupos abaixo da média aparecem trabalhadores dos serviços e vendedores do comércio, com R$ 2.393, operadores de instalações e máquinas, com R$ 2.657, e trabalhadores qualificados da agropecuária, com R$ 2.250.
Esses números revelam que boa parte dos trabalhadores do Brasil está concentrada em faixas salariais que não chegam ao patamar médio nacional, o que ajuda a entender por que o recorde de renda convive com a sensação de aperto no orçamento das famílias.
Recorde de renda do Brasil não encerra debate sobre desigualdade
O conjunto dos dados do IBGE mostra que o Brasil avançou em renda média e em número de pessoas ocupadas, mas preserva um desenho de mercado de trabalho muito desigual.
Homens continuam em vantagem sobre mulheres, brancos mantêm rendimentos muito superiores aos de pretos e pardos e quem ocupa funções básicas segue distante da média nacional.
Na prática, isso significa que o recorde de R$ 3.208 não é a realidade da maior parte dos trabalhadores do Brasil, e sim um retrato médio de um país em que poucos ganham muito e muitos ganham pouco.
A forma como políticas públicas, empresas e sindicatos vão responder a esse quadro será decisiva para reduzir ou ampliar esse abismo nos próximos anos.
E para você, olhando para a sua renda e para a dos que estão ao seu redor no Brasil, o que mais pesa hoje na diferença de salário: o tipo de trabalho, o gênero ou a cor da pele?

