Brasil perde 1,2 milhão de caminhoneiros em 10 anos, salários não acompanham custos, estradas seguem perigosas e o país caminha para um apagão logísticoBrasil perde caminhoneiros e enfrenta apagão logístico, com falta de caminhoneiros, baixa valorização dos caminhoneiros e pressão na profissão de caminhoneiro.

Brasil perde caminhoneiros há 10 anos, vê 1,2 milhão deixarem a estrada, mantém salários apertados e empurra o transporte para um apagão logístico anunciado.

O Brasil perde caminhoneiros em ritmo acelerado. Em apenas uma década, 1,2 milhão de motoristas com carteira C e E sumiram da ativa, uma queda de 22%, que reduz o total de 5,6 milhões em 2015 para 4,4 milhões hoje e empurra o país para um possível apagão logístico. Ao mesmo tempo, a média salarial não acompanha o custo de vida, a pressão por produtividade aumenta e a conta simplesmente não fecha para quem vive na boleia.

Por trás dos números frios, há uma realidade dura. Salários baixos, longas temporadas longe de casa, estradas perigosas, falta de estrutura básica e desrespeito diário fazem com que a profissão de caminhoneiro deixe de ser sonho e vire último recurso para muita gente.

O resultado é visível: o Brasil perde caminhoneiros experientes, afasta jovens da profissão e se aproxima de um cenário em que não haverá braços suficientes para tirar a carga do papel e colocá-la na estrada.

Caminhoneiro some, país inteiro sente

Quando o Brasil perde caminhoneiros, não é só a categoria que sofre, é toda a economia nacional que fica em risco. Do remédio que chega na farmácia à água engarrafada no supermercado, tudo depende de alguém dirigindo um caminhão. Mesmo assim, quem carrega o país nas costas é, na prática, tratado como se fosse invisível.

Os dados mostram o tamanho do problema. Em 10 anos, o número de motoristas habilitados nas categorias que movimentam o transporte pesado caiu de 5,6 milhões para 4,4 milhões.

Menos motoristas na estrada significa mais carga concentrada em menos pessoas, mais horas ao volante, mais pressão por prazo e mais risco de acidente e de colapso na entrega.

É exatamente esse desequilíbrio que alimenta o alerta de um apagão logístico cada vez mais próximo.

Falta de caminhoneiros não é falta de gente, é falta de valorização

Na prática, a falta de caminhoneiros não vem da ausência de pessoas, mas da ausência de valorização real do trabalho. Quem está na estrada responde com clareza quando perguntam o que precisa melhorar: respeito, frete, comissão, salário, infraestrutura, segurança. Ou seja, tudo.

Em 2023, a média salarial dos caminhoneiros empregados era de R$ 2.291. No primeiro semestre de 2024, subiu para R$ 2.436, um aumento de 6,3%, enquanto o salário mínimo cresceu 8,2% no mesmo período. Ou seja, o poder de compra do caminhoneiro encolhe, mesmo quando o salário nominal sobe um pouco.

Entre os autônomos, a situação parece melhor à primeira vista: renda bruta média em torno de R$ 10 mil. Mas, depois de combustível, pedágio, manutenção e outros custos, o lucro real cai drasticamente. Sem contar o risco permanente de ficar meses longe de casa para “fazer girar” um caminhão que custa caro demais para ficar parado.

A própria forma de pagamento piora o quadro. Comissão baseada em produtividade, e não em segurança ou qualidade, empurra o motorista a rodar cada vez mais, por mais horas, em menos tempo, elevando o risco de acidentes e esgotamento físico e mental.

Profissão de caminhoneiro envelhece e deixa de atrair os jovens

Enquanto o Brasil perde caminhoneiros, a profissão de caminhoneiro envelhece e perde apelo entre as novas gerações. A média de idade, que era de 38 anos em 2014, hoje gira em torno de 46 anos.

Isso não acontece por acaso. Muitos motoristas relatam ficar 30, 55, até 90 dias fora de casa. “Você entrou aqui, você perdeu a família”, resume um deles. Sem vida familiar, sem vida social e sem perspectiva de crescimento, a profissão de caminhoneiro deixa de ser um projeto de futuro e vira um sacrifício contínuo.

Não é à toa que tantos afirmam que não indicariam a profissão para um amigo. Mesmo quem “nasceu em cima de caminhão” admite já ter pensado em sair da estrada, mas muitas vezes não vê alternativa porque não sabe fazer outra coisa.

Assim, o Brasil perde caminhoneiros experientes sem que uma nova geração se sinta incentivada a ocupar esse lugar.

Estradas perigosas, falta de estrutura e desrespeito diário

Insegurança nas estradas, risco constante de assalto, acidentes, rodovias esburacadas e falta de pontos de parada adequados formam um cenário que empurra ainda mais gente para fora da profissão.

O caminhoneiro é cobrado por prazo, por desempenho e por disponibilidade, mas não recebe em troca o mínimo de condições dignas de trabalho.

Muitos embarcadores e empresas exigem horários rígidos para chegada e saída, mas não oferecem banheiro decente, área de descanso, alimentação ou segurança.

Cobram que a carga esteja no destino em determinado dia e horário, sem se importar com o trecho percorrido, com as condições de pista, clima ou estrutura ao longo do caminho.

A lógica é simples e cruel: se o motorista não entrega no prazo, perde a carga e, muitas vezes, o cliente.

Enquanto isso, fala-se cada vez mais de ESG, responsabilidade social, inclusão e governança, mas o discurso quase nunca desce para o chão da estrada.

Se o caminhoneiro não entra no centro da discussão social das empresas, toda a cadeia de logística continua apoiada em um elo fraco, mal pago e desrespeitado.

Brasil perde caminhoneiros e se aproxima do apagão logístico

Somando envelhecimento da categoria, saída de profissionais, menos gente interessada em entrar e condições de trabalho precárias, o cenário é perfeito para que o apagão logístico deixe de ser ameaça e se torne realidade. Quando faltar caminhoneiro, não será só o setor de transporte que vai sentir, será toda a sociedade.

O problema é conhecido e está claramente diagnosticado por quem vive na estrada. Falta de segurança, estradas ruins, ausência de pontos de parada e apoio, baixa valorização e remuneração insuficiente para tanto sacrifício se repetem em quase todos os relatos.

Se nada mudar, o Brasil perde caminhoneiros em ritmo crescente, até que as prateleiras vazias, o atraso nos insumos e o encarecimento dos produtos mostrem, na prática, o custo de ignorar quem mantém o país abastecido.

A solução não é simples e não virá de um único lado. Governo, transportadoras, embarcadores, associações de classe e a própria sociedade precisam encarar o problema com seriedade. Será preciso discutir salários, modelo de comissionamento, segurança nas rodovias, infraestrutura de descanso e, principalmente, respeito ao profissional.

Se o país depende de caminhão para tudo, então valorizar a profissão de caminhoneiro é uma questão estratégica para a economia nacional, não apenas um gesto de boa vontade.

E para você, na prática, o que precisa mudar primeiro para que o Brasil deixe de perder caminhoneiros e essa profissão volte a ser uma escolha de futuro para as novas gerações?

Autor

  • Carla Teles

    Produzo conteúdos diários sobre economia, curiosidades, setor automotivo, tecnologia, inovação, construção, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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