Brasil poderia cortar 40% do CO₂, baratear fretes e superar os EUA em logística agrícola com a Ferrogrão, enquanto mantém mais florestas, produz mais e avançaFerrogrão pode revolucionar a logística agrícola, trocar transporte rodoviário por transporte ferroviário e fortalecer um agronegócio sustentável.

A Ferrogrão, ferrovia planejada para ligar Mato Grosso ao Pará, pode reduzir em até 40% as emissões de CO₂ do transporte de grãos, baratear o frete e colocar o Brasil à frente dos Estados Unidos

Enquanto os Estados Unidos colhem os resultados de uma malha integrada de ferrovias e hidrovias, o Brasil ainda escoa a maior parte da soja e do milho por caminhões em estradas longas e caras, mas a Ferrogrão surge como a peça que falta para encurtar distâncias, reduzir emissões e tornar o frete agrícola muito mais competitivo. São cerca de mil quilômetros separando a produção do Centro-Oeste dos portos do Pará, hoje vencidos quase sempre por rodovias que geram mais acidentes, mais custo e mais CO₂.

Ao comparar fazendas no cinturão do milho norte-americano com áreas produtivas de Mato Grosso, fica claro que o Brasil já é ambientalmente mais eficiente e tem potencial para ser também o mais eficiente em logística, desde que consiga tirar a Ferrogrão do papel e substituir parte do transporte rodoviário por trilhos. Com isso, o país poderia reduzir milhões de toneladas de CO₂, baratear o frete, ampliar margens do produtor e ainda reforçar a sua imagem de potência agrícola sustentável.

Como os Estados Unidos escoam sua produção e onde eles ainda levam vantagem

Nos Estados Unidos, grandes propriedades do chamado corn belt operam em um ambiente totalmente integrado à infraestrutura de transporte. Ferrovias cruzam o estado e levam milho e soja diretamente para hidrovias como o rio Mississippi, de onde comboios de barcaças seguem até o Golfo do México e os portos de exportação. Um único conjunto de barcaças equivale a milhares de caminhões em capacidade de carga, o que reduz custo, emissões e pressão sobre as estradas.

Ao visitar produtores americanos, fica evidente a facilidade de escoamento. Eles têm, em média, pouco mais de cem quilômetros até ramais ferroviários ou portos fluviais, enquanto no Brasil a distância entre as áreas produtoras de Mato Grosso e os portos costuma ficar entre mil e dois mil quilômetros de rodovias.

Esse encurtamento de distâncias, associado ao uso intensivo de ferrovias e hidrovias, faz com que o transporte pese algo em torno de 9 a 11% no custo final do produto por lá, contra mais de 20% no Brasil.

As vantagens ambientais e produtivas que o Brasil já tem

Apesar dessa vantagem logística americana, o Brasil carrega trunfos importantes. Mato Grosso, um dos maiores produtores de grãos do planeta, ainda mantém cerca de 65% de seu território coberto por florestas, enquanto estados agrícolas dos Estados Unidos praticamente já não têm áreas de vegetação nativa nas regiões produtivas. Em solo brasileiro, a produção avançou com mais preservação relativa.

Há também uma diferença estrutural no modelo de manejo. O plantio direto, amplamente adotado no Brasil, reduz erosão, melhora a estrutura do solo, fixa mais carbono e aproveita melhor nutrientes, algo que ainda não é padrão em muitas áreas do hemisfério norte.

Além disso, boa parte das regiões agrícolas brasileiras permite até três safras na mesma área ao longo do ano, enquanto fazendas americanas geralmente conseguem apenas uma safra por causa da neve e do inverno prolongado.

Na gestão de resíduos, o Brasil também aparece à frente. O país criou uma política nacional de logística reversa de embalagens de defensivos e fertilizantes que já consegue devolver à origem cerca de 95% dessas embalagens, algo que produtores norte-americanos reconhecem como um ponto em que ainda estão atrás.

Ou seja, em produtividade por área, em rotação de culturas e em gestão ambiental, o Brasil já está em vantagem.

O gargalo brasileiro está no transporte rodoviário

O grande ponto fraco brasileiro aparece quando a lavoura termina e começa a logística. A maior parte da soja e do milho do Centro-Oeste ainda sai da fazenda em caminhões, percorre estradas longas, enfrenta pedágios, desgaste de pneus, consumo intenso de diesel e maior risco de acidentes.

Todo esse caminho até os portos eleva o custo final e aumenta significativamente as emissões de CO₂ associadas ao transporte.

Enquanto produtores americanos veem trilhos e barcaças praticamente ao lado das plantações, o produtor brasileiro precisa cruzar meio país sobre asfalto.

O resultado é um transporte mais caro, que tira competitividade do produto nacional, e mais poluente, pois concentra a carga em caminhões movidos a combustíveis fósseis em distâncias muito maiores.

É exatamente esse gargalo que a Ferrogrão mira ao propor um eixo ferroviário direto entre a produção de Mato Grosso e os portos do Pará.

O que é a Ferrogrão e por que essa ferrovia muda tudo

A Ferrogrão é uma ferrovia planejada para ligar a região produtora de grãos de Mato Grosso aos portos do Pará, em um traçado de aproximadamente mil quilômetros.

Hoje, essa mesma rota é feita quase toda por rodovias, o que encarece o frete, aumenta o risco de acidentes e multiplica as emissões de CO₂.

Ao substituir esse corredor rodoviário por trilhos, o Brasil ganha uma via dedicada ao agronegócio, mais eficiente, mais segura e ambientalmente mais limpa.

Ninguém fez de forma ampla, no debate público, o cálculo completo do impacto da Ferrogrão, mas os números básicos já impressionam. Ao implementar essa ferrovia de cerca de mil quilômetros, o Brasil poderia reduzir em torno de 40% o CO₂ emitido em relação ao transporte rodoviário que hoje domina o escoamento de grãos nessa rota, simplesmente por trocar centenas de caminhões por composições ferroviárias mais eficientes.

Menos CO₂, frete mais barato e produto mais competitivo

A diferença entre rodar com caminhões e rodar em trens carregados de grãos não é apenas teórica.

Estudos apresentados por defensores da Ferrogrão indicam que a mudança para o modal ferroviário poderia tirar cerca de 3,4 milhões de toneladas de CO₂ da atmosfera, apenas substituindo o transporte rodoviário atual nessa faixa de mil quilômetros.

Menos emissões significam menor pegada de carbono da cadeia produtiva e um argumento forte em mercados cada vez mais exigentes em sustentabilidade.

A questão econômica também é decisiva. Com a Ferrogrão, haveria uma redução significativa no custo do frete, o que barateia o produto final, amplia a margem para o produtor e aumenta a competitividade do Brasil diante de concorrentes como os Estados Unidos.

Em vez de gastar mais de 20% do valor do produto só em transporte, o país poderia se aproximar dos patamares de custo dos americanos, ou até superá-los em eficiência quando somados os ganhos logísticos e ambientais.

Essa combinação de menos CO₂, frete mais barato e maior previsibilidade logística reforça a imagem de um agro brasileiro capaz de produzir muito, preservar florestas e, ao mesmo tempo, entregar um produto competitivo e com menor impacto ambiental ao consumidor final.

Ferrogrão como peça central de uma logística agrícola sustentável

A Ferrogrão não é apenas um traço no mapa. Ela representa a chance de alinhar a vocação produtiva do Centro-Oeste a um modelo de escoamento compatível com a escala e com as ambições do agronegócio brasileiro.

Ao criar um corredor ferroviário direto até os portos do Pará, o país reduz sua dependência quase absoluta das rodovias e começa a compor, de fato, uma malha mais próxima do padrão ferroviário e hidroviário que hoje dá vantagem aos Estados Unidos.

Com isso, o Brasil poderia combinar o que já tem de melhor: grandes áreas preservadas, plantio direto, múltiplas safras por ano, alta produtividade por hectare e uma logística mais limpa e eficiente baseada em projetos como a Ferrogrão.

Em vez de escolher entre produzir ou preservar, o país passaria a produzir mais, preservar mais e emitir menos, usando a inteligência logística para somar competitividade e sustentabilidade.

A comparação com os Estados Unidos mostra que o Brasil já superou o concorrente em vários pontos ambientais e agronômicos, mas ainda perde na etapa final, que é levar a produção até o porto.

A Ferrogrão aparece como a grande oportunidade de virar esse jogo, cortando até 40% das emissões de CO₂ do transporte, reduzindo o custo do frete e posicionando o país como líder mundial em logística agrícola sustentável.

A decisão agora é política, econômica e estratégica. O traçado existe, os números estão sobre a mesa e o potencial de ganhos ambientais e de competitividade é enorme. Se a Ferrogrão sair do papel, o Brasil pode deixar de ser apenas um gigante na produção para se tornar também um gigante na eficiência logística verde.

E você, acha que o Brasil deve priorizar a Ferrogrão para cortar CO₂, baratear fretes e superar de vez os Estados Unidos na logística agrícola?

Autor

  • Carla Teles

    Produzo conteúdos diários sobre economia, curiosidades, setor automotivo, tecnologia, inovação, construção, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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