Mineral brilhante chamado Pirita causou confusões históricas em navegações inglesas e corridas do ouro devido à sua semelhança visual com o metal precioso.
Quem observa uma rocha brilhante com cristais metálicos e formas geométricas perfeitas pode facilmente acreditar que encontrou um tesouro, mas muitas vezes trata-se apenas da Pirita. Este mineral, que pode ser adquirido em lojas especializadas por valores acessíveis como R$ 35 em sua forma bruta, possui uma beleza que engana os olhos destreinados e carrega o apelido mundial de “ouro de tolo” ou fool’s gold em inglês.
Apesar de sua aparência fascinante, a composição química revela uma realidade bem diferente, contendo ferro e enxofre em vez de riqueza monetária.
A história da mineração está repleta de episódios onde toneladas desse material foram transportadas por engano, provando que nem tudo que reluz é ouro, mas sim um sulfeto capaz de soltar faíscas e cheiro forte quando manipulado incorretamente.
O explorador que levou toneladas de pedra por engano
A confusão causada pela Pirita não é recente e já gerou prejuízos astronômicos na era das grandes navegações. Um dos casos mais emblemáticos envolveu o explorador inglês Martin Frobisher.
Em 1576, ele partiu da Inglaterra rumo ao norte do Canadá em busca da Passagem Noroeste para o Oceano Pacífico.
Embora não tenha encontrado a passagem, ele chegou à Ilha de Baffin, onde coletou uma pedra brilhante que levou de volta para análise.
Mesmo com especialistas da rainha identificando que aquilo não era ouro puro, investidores acreditaram que seria possível extrair o metal precioso daquele material.
Financiado para novas expedições, Frobisher retornou ao Canadá e transportou para a Inglaterra uma quantidade absurda de minério: 200 toneladas na primeira viagem e mais 1.000 toneladas na segunda.
Para se ter uma ideia do volume, isso equivale ao peso de dezenas de aviões Boeing 737, tudo transportado em navios de madeira movidos a vela. O resultado final foi decepcionante, pois era tudo ouro de tolo e praticamente nenhum ouro real foi extraído.
A armadilha geológica nas corridas do ouro
O problema persistiu séculos depois durante as famosas corridas do ouro nos Estados Unidos e Canadá, entre 1800 e 1900. Na Califórnia, por exemplo, a descoberta de ouro em 1848 atraiu cerca de 300 mil pessoas para a região, um número que dobrava a população local da época.
No rio Klondike, no Canadá, o cenário se repetiu com 30 mil aventureiros enfrentando o frio extremo em busca de riqueza rápida. Curiosamente, foi neste cenário do Klondike que, na ficção, o personagem Tio Patinhas teria construído sua fortuna.
Muitos desses garimpeiros eram inexperientes e não possuíam conhecimento geológico. A natureza, por sua vez, preparava uma pegadinha: a Pirita costuma aparecer nos mesmos locais geológicos que o ouro.
Onde há ouro, é comum haver também o ouro de tolo. Assim, no fervor da busca, ao encontrar algo brilhante na lama ou na rocha, o garimpeiro amador acreditava estar rico, quando na verdade tinha encontrado apenas sulfeto de ferro.
A ciência por trás do brilho e o cheiro de enxofre
Quimicamente, a Pirita é um dissulfeto de ferro (FeS2), o que significa que para cada átomo de ferro, existem dois de enxofre.
Essa composição explica uma de suas características mais marcantes: o cheiro de ovo podre que exala quando o mineral é aquecido ou sofre atrito forte. O próprio nome vem do grego pyr, que significa fogo, uma referência à capacidade da pedra de soltar faíscas quando golpeada contra o metal.
Além da química, a estrutura física é impressionante. O mineral forma cristais naturais que parecem ter sido lapidados por máquinas, apresentando faces retas e formatos de cubos perfeitos ou octaedros. Existem até casos de piritização, onde o mineral se forma sobre fósseis de animais mortos, como amonitas, criando peças de valor visual único.
Utilidades industriais e a diferença real
Apesar de não ser ouro, a Pirita não é inútil. O enxofre presente em sua composição já foi muito utilizado para a produção de ácido sulfúrico.
Além disso, o mineral pode ser usado na fabricação daquele vidro marrom, comum em garrafas de remédios, que serve para proteger o conteúdo contra a luz.
Para quem ainda tem dúvidas sobre como diferenciar os dois, a observação atenta é fundamental. O ouro encontrado na natureza geralmente aparece em pepitas ou pó, é maleável e possui um amarelo muito específico.
Já a Pirita é mais pálida, acinzentada ou acobreada, dura e forma cristais geométricos. Existe ainda a calcopirita, que por ter cobre na mistura, ganha um tom mais amarelado e confunde ainda mais os desavisados.
E você, se encontrasse uma pedra brilhante no meio de um rio, saberia dizer se é ouro de verdade ou sairia comemorando com uma pirita no bolso?

