Câncer agressivo, sem plano de saúde e fim em asilo expõem o drama silencioso vivido pelo ex-âncora do Jornal Nacional Berto Filho, que marcou os anos 80 e morreu no Retiro dos Artistas após uma trajetória de prestígio na televisão brasileira, mas de vulnerabilidade na velhice. A história do jornalista levanta dúvidas sobre a proteção social oferecida a quem dedicou décadas à informação em rede nacional e enfrentou o fim da carreira sem plano de saúde, com câncer avançado e necessidade de acolhimento institucional.
Ao reconstituir o percurso do ex-âncora do Jornal Nacional, da bancada do maior telejornal do país ao leito no Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, a narrativa vai além da curiosidade biográfica e expõe como a falta de garantias mínimas na aposentadoria transforma ícones da mídia em pacientes dependentes de instituições filantrópicas.
O caso de Berto Filho, que passou os últimos anos no Retiro dos Artistas, sintetiza um paradoxo brasileiro: a imagem de sucesso diante das câmeras contrastando com uma velhice marcada por doença grave, baixa renda e ausência de rede privada de proteção.
Do auge como ex-âncora do Jornal Nacional à saída da Globo
Nascido Ulisberto Lelot, Berto Filho construiu uma carreira sólida na televisão ao longo dos anos 70 e 80. Na Rede Globo, ele se consolidou como ex-âncora do Jornal Nacional, ocupando a bancada do principal telejornal do país em uma época em que a TV aberta concentrava quase toda a audiência de notícias. A voz grave, a leitura pausada e a postura rigorosa o transformaram em um dos rostos mais reconhecidos do noticiário brasileiro.
Além de atuar como ex-âncora do Jornal Nacional, Berto Filho apresentou o Jornal Hoje, comandou o RJTV e integrou o time de apresentadores do Fantástico. A presença em múltiplas faixas de programação reforçou a imagem de jornalista versátil, capaz de transitar entre o hard news nacional e a cobertura local do Rio de Janeiro. Dentro do padrão de telejornalismo da época, ele se tornou sinônimo de seriedade e estabilidade aos olhos do público.
A trajetória na Globo sofreu uma inflexão a partir de meados dos anos 80. Berto Filho deixou a emissora em 1986 e passou por outros canais importantes, como TV Rio, Rede Manchete e RedeTV!. O deslocamento da posição de ex-âncora do Jornal Nacional para outras estruturas menos poderosas do sistema de mídia indicava uma mudança de ciclo profissional. Em 2004, ele retornou à Globo como locutor do Fantástico, em substituição a Celso Freitas, mas esse retorno foi temporário e seu contrato terminou em 2008, marcando o afastamento definitivo das grandes emissoras.
Câncer agressivo, sem plano de saúde e ida ao Retiro dos Artistas
Nos anos posteriores à saída em definitivo da televisão, a vida de Berto Filho foi marcada pela deterioração da saúde. Ele enfrentou câncer no fígado e, depois, câncer na garganta, quadro que exigia acompanhamento médico contínuo e tratamentos complexos. Sem plano de saúde, o ex-âncora do Jornal Nacional passou a depender integralmente da estrutura pública e do suporte de instituições voltadas a artistas em situação de vulnerabilidade.
Em 2015, já idoso e com a saúde fragilizada, Berto Filho mudou-se para o Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. O local, tradicionalmente voltado a acolher profissionais das artes sem condições de se manter sozinhos, funcionou como uma espécie de asilo especializado. Lá, ele teve acesso a cuidados básicos, moradia e algum acompanhamento, mas o simples fato de um ex-âncora do Jornal Nacional terminar a vida em um retiro filantrópico, sem plano de saúde, expõe o limite das estruturas de proteção oferecidas pelo mercado televisivo.
O quadro oncológico se agravou com o tempo. O câncer na garganta, órgão diretamente associado à sua profissão de apresentador e locutor, avançou de forma agressiva e acabou se espalhando para o cérebro. A combinação de doença agressiva, idade avançada e recursos financeiros restritos reforçou a dependência do sistema público de saúde e do acolhimento institucional.
Rotina discreta, livro não publicado e isolamento progressivo
Mesmo debilitado, Berto Filho manteve uma rotina de relativa atividade intelectual dentro do Retiro dos Artistas. Ele se dedicou à escrita e chegou a preparar um livro, segundo relatos do filho, Henry Lelot. O projeto, no entanto, não chegou a ser concluído nem publicado. O livro inacabado acabou simbolizando o corte abrupto entre a vida pública intensa do ex-âncora do Jornal Nacional e o silêncio de seus últimos anos, vividos longe dos estúdios, das câmeras e do grande público.
A mudança para o Retiro dos Artistas também significou uma transição drástica de ambiente. Depois de décadas em redações, estúdios, ilhas de edição e corredores de emissoras, Berto Filho passou a conviver com um grupo restrito de colegas que igualmente dependiam do acolhimento institucional. A visibilidade nacional foi substituída por uma existência discreta, marcada por cuidados médicos, rotina doméstica e visitas pontuais. O contraste entre a centralidade que ele teve como ex-âncora do Jornal Nacional e a reclusão no fim da vida escancara a distância entre a imagem pública idealizada e as condições concretas da velhice.
Morte em 2016 e legado de um telejornalismo de outro tempo
Berto Filho morreu em 12 de março de 2016, aos 75 anos, vítima do câncer na garganta que já havia se espalhado para o cérebro. Ele estava internado no Instituto Nacional do Câncer, o INCA, no Rio de Janeiro, no momento da morte. O sepultamento ocorreu no Cemitério do Caju, um dos mais tradicionais da capital fluminense. Assim se encerrou a trajetória de um profissional que, durante anos, foi referência no principal telejornal do país, mas terminou a vida em um asilo para artistas e em um leito de hospital público.
O legado de Berto Filho permanece associado a um telejornalismo de outro tempo, centrado em bancadas fixas, poucos rostos e alto grau de confiança depositado em figuras como o ex-âncora do Jornal Nacional. A sua história recente, porém, amplia o debate sobre como o sistema de mídia trata seus profissionais após o auge da exposição pública, especialmente em contextos de doença grave e ausência de patrimônio robusto.
Mais do que uma curiosidade biográfica, o drama do ex-âncora do Jornal Nacional funciona como um espelho das fragilidades estruturais enfrentadas por veteranos da TV, mesmo aqueles que ocuparam posições de destaque. Ao olhar para esse percurso, fica a pergunta incômoda: você acha que jornalistas e apresentadores que estiveram no auge da audiência deveriam ter garantias específicas para enfrentar a velhice e doenças graves, ou o destino após o sucesso deve depender apenas de decisões individuais ao longo da carreira?


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