deserto e desertificação: países usam florestas plantadas e megaparques solares em regiões áridas para conter areia, proteger cidades e recuperar solos.deserto e desertificação: países usam florestas plantadas e megaparques solares em regiões áridas para conter areia, proteger cidades e recuperar solos.

Dos desertos do Gobi ao Saara e a Kubuqi, cientistas e governos testam formas de impedir que o deserto avance, combinando barragens, florestas plantadas, agroglifos irrigados e megaparques solares para recuperar solos degradados, proteger cidades ameaçadas e ganhar tempo na crise climática global em regiões áridas da Ásia e África

Desde o fim do século 20, o avanço do deserto deixou de ser apenas imagem de dunas ao vento e virou indicador concreto de crise global. Em regiões como o deserto do Gobi, entre a Mongólia e a China, áreas que antes eram utilizadas como pastagens são convertidas ano após ano em terreno árido, com perda de solo fértil, migração forçada de famílias inteiras e vilarejos abandonados à própria sorte. O deserto, antes visto como limite distante no mapa, passou a bater diretamente às portas de cidades e povoados.

Ao mesmo tempo, a partir da década de 1970, vários países iniciaram experiências para tentar reverter ou frear a desertificação. Surgiram agroglifos circulares no deserto da Arábia Saudita, programas de reflorestamento no deserto de Kubuqi a partir dos anos 1980 e, em 2010, projetos de barragens e valas no interior da Península Arábica para usar enchentes repentinas como aliados. A pergunta central agora é como transformar o deserto em parte da solução climática, e não apenas em símbolo da crise.

Como o deserto avança e transforma solo fértil em poeira

A desertificação é o processo em que terras produtivas passam a se comportar como deserto, com perda de vegetação, erosão, salinização e queda drástica na capacidade de reter água. O fenômeno é alimentado por secas mais prolongadas, aquecimento global, desmatamento e modelos de agricultura que exaurem o solo. Quando o deserto avança, o que era campo de cultivo ou pastagem vira poeira e areia em poucos anos.

Em regiões áridas e semiáridas, esse avanço provoca uma espiral de impactos. A produção de alimentos cai, o gado perde pasto, famílias migram para áreas urbanas já pressionadas e cidades passam a conviver com tempestades de poeira mais intensas. O deserto também afeta o clima local, reforçando ciclos de calor e secura, o que facilita novos episódios de degradação. Sem políticas de contenção, o deserto se expande sempre em direção às áreas mais frágeis e desprotegidas.

Agroglifos gigantes no deserto da Arábia Saudita

No meio do deserto da Arábia Saudita, imagens aéreas mostram círculos verdes perfeitos recortando a areia. São agroglifos, áreas de plantio que utilizam irrigação por pivô central. Cada círculo pode chegar a quase um quilômetro de diâmetro. A ideia é simples: perfurar profundamente o deserto, bombear água subterrânea e transformar parte da areia em campo agrícola altamente mecanizado.

Esses agroglifos permitiram plantar trigo e outras culturas em pleno deserto, garantindo produtividade em um ambiente naturalmente hostil. O custo, porém, é alto. A monocultura reduz a capacidade do solo de se regenerar e as chuvas na região são insuficientes para repor a água retirada dos aquíferos profundos. Na prática, o deserto fica temporariamente verde, mas a conta hídrica não fecha e, em poucas décadas, as bombas podem ficar sem água para puxar.

Barragens e valas que fazem chover dentro do deserto

Em outra frente, projetos mais recentes tentam trabalhar com o deserto e não contra ele. Em áreas áridas da Península Arábica, uma iniciativa iniciada em 2010 passou a construir pequenas barragens de pedra e longas valas estrategicamente posicionadas em ravinas e leitos secos. O objetivo é capturar as enchentes repentinas que descem das montanhas, desacelerar a água e fazê-la infiltrar no solo do deserto, em vez de deixá-la desaparecer rapidamente.

Nos primeiros anos, as áreas plantadas em meio ao deserto receberam complementação de irrigação artificial. Com o tempo, árvores, arbustos e gramíneas nativas enraizaram mais fundo e passaram a sobreviver apenas com a água armazenada no subsolo. Em algumas encostas, a vegetação resistiu a períodos de seca de até dois anos e meio sem irrigação extra. O resultado é um deserto menos hostil, com manchas verdes estáveis, aumento do lençol freático local e menor erosão.

Florestas plantadas no deserto de Kubuqi e engenharia contra a areia

Na China, o deserto de Kubuqi se tornou vitrine de técnicas de restauração em larga escala. A partir do fim dos anos 1980, o governo e empresas começaram a testar formas de plantar árvores em áreas de areia móvel, combinando conhecimento local e engenharia simples. Em vez de grandes máquinas pesadas, passaram a usar mangueiras de alta pressão para abrir cavidades na areia e irrigar a muda ao mesmo tempo.

Ao redor das mudas, a cobertura com palha ajuda a proteger o solo do vento e a reduzir a evaporação, permitindo que as raízes alcancem camadas mais úmidas. Com a repetição do método em milhares de hectares, partes do deserto de Kubuqi voltaram a abrigar vegetação, servindo como pastagens e áreas de cultivo de espécies adaptadas ao clima seco, como plantas medicinais de alto valor comercial. Isso reduziu também a frequência de tempestades de areia que atingiam grandes centros urbanos localizados a centenas de quilômetros de distância.

Parques solares eólicos gigantes no Saara como laboratório de clima

Outra abordagem discute o uso de tecnologia em escala continental. Estudos de modelagem climática avaliaram o impacto de cobrir uma fração do deserto do Saara com grandes parques solares e eólicos. A simulação indica que uma vasta área de painéis solares e turbinas eólicas poderia alterar a circulação de ventos, aquecer levemente o ar próximo ao solo e favorecer a formação de nuvens e chuvas em zonas de transição entre o deserto e a savana.

O aumento de umidade, mesmo modesto, ajudaria a fixar mais vegetação em áreas hoje extremamente áridas, aproximando o deserto de um estado menos agressivo para cidades vizinhas. Esse tipo de parque, em tese, também forneceria energia muito acima da demanda atual mundial, abrindo espaço para projetos de dessalinização, irrigação e eletrificação em larga escala. O desafio é transformar uma proposta de laboratório em plano politicamente viável, diante de custos trilionários e disputas entre países que dividem o deserto.

O que realmente funciona hoje para frear o avanço do deserto

As experiências espalhadas por diferentes países mostram que não existe solução única para impedir que o deserto avance sobre áreas produtivas. Agroglifos irrigados podem funcionar no curto prazo, mas esbarram na exaustão da água subterrânea. Barragens e valas de infiltração ajudam a reconstruir o ciclo da água em escala local. Florestas plantadas em desertos como Kubuqi mostram que é possível restaurar a vegetação se o plantio respeitar o clima e o relevo. Megaparques solares e eólicos, por sua vez, abrem debates sobre o uso do deserto como ferramenta ativa de gestão do clima.

Ao mesmo tempo, especialistas insistem que é mais barato proteger solos semiáridos antes que virem deserto do que tentar reverter todo o processo depois. Isso passa por reduzir desmatamento, controlar a superexploração do solo, apoiar práticas agrícolas regenerativas e planejar cidades que não empurrem populações vulneráveis para áreas cada vez mais secas. O deserto, como bioma, continua a ter valor ecológico próprio. O problema está na perda acelerada de terras férteis e na ameaça direta a cidades e comunidades que dependem de água e vegetação para sobreviver.

Na sua opinião, o mundo deveria priorizar reflorestamento em desertos como Kubuqi, projetos de barragens e manejo da água em regiões áridas ou megaparques solares em áreas desérticas para impedir que mais cidades sejam engolidas pela areia nas próximas décadas?

Autor

  • Bruno Teles

    Falo sobre tecnologia, inovação, automotivo e curiosidades. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro.
    Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil.
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