Enfermeira de 68 anos cai em ligação que se passa pelo INSS, entrega a senha, vê operações somarem R$ 36,2 mil em São José do Rio Preto; caso é registrado como estelionato, polícia investiga quadrilha, e instituto reforça que não convoca prova de vida por telefone em dezembro de 2025.
Uma enfermeira de 68 anos perdeu mais de R$ 36 mil na sexta-feira (28), em São José do Rio Preto (SP), ao cair no golpe da falsa prova de vida do INSS por telefone, depois de ser orientada a regularizar o benefício da mãe, que já morreu, e a transferir os valores para a própria conta.
O caso foi registrado como estelionato na Central de Flagrantes e divulgado em 2 de dezembro de 2025. A polícia investiga a ação de uma quadrilha que usa ligações para enganar aposentados e herdeiros, repetindo um áudio fraudulento que começou a circular nas redes a partir de maio de 2025, após uma operação da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União, em 23 de abril de 2025, revelar um esquema bilionário de descontos irregulares em benefícios do INSS.
Ligação promete prova de vida e mira benefício da mãe falecida
De acordo com o boletim de ocorrência, a enfermeira recebeu uma ligação em que a atendente se apresentava como funcionária do INSS e afirmava que havia pendências na prova de vida relacionada à mãe da vítima, já falecida.
Durante a conversa, a suposta representante do instituto informou que, para regularizar o cadastro e manter o pagamento, seria necessário fazer a portabilidade da conta bancária da mãe para a conta da própria enfermeira. A partir daí, os golpistas conduziram a vítima passo a passo, criando um clima de urgência para que ela não desconfiasse.
Enfermeira entrega senha, operação é interrompida, mas quadrilha já tinha acesso
Em meio às orientações, a enfermeira acabou fornecendo a senha da conta bancária. Em um primeiro momento, ela tentou seguir as instruções passadas pela ligação, acreditando que estava apenas cumprindo um procedimento obrigatório do INSS.
Em determinado ponto, porém, a vítima passou a desconfiar do roteiro da suposta atendente, interrompeu a operação e encerrou o contato. Em seguida, uma nova ligação foi feita ao telefone da enfermeira, com novas orientações sobre como corrigir o problema. Foi então que ela percebeu que terceiros já haviam acessado a sua conta.
Empréstimos em sequência e pagamentos somam R$ 36,2 mil
Ao checar o extrato, a enfermeira constatou empréstimos contratados em sequência e pagamentos não reconhecidos, todos realizados após a ligação sobre a prova de vida. As operações somaram R$ 36,2 mil de prejuízo, valor que saiu diretamente da conta da vítima.
A ocorrência foi registrada como crime de estelionato na Central de Flagrantes de São José do Rio Preto. A investigação busca identificar os integrantes da quadrilha especializada em golpes digitais contra aposentados e herdeiros, que se aproveita da rotina de benefícios do INSS para dar aparência de legalidade às ligações.
Falsa prova de vida por telefone já circula desde maio de 2025
No início de maio de 2025, começaram a surgir nas redes sociais relatos de pessoas que receberam chamadas telefônicas supostamente em nome do INSS para tratar de prova de vida.
A gravação usada pelos criminosos se apresenta como atendimento oficial, afirma que o beneficiário foi escolhido entre milhões de aposentados, pensionistas e beneficiários de auxílios de longa duração e manda digitar 1 para prosseguir com o atendimento da prova de vida. O tom da mensagem é de convocação urgente, o que reforça a sensação de obrigação e pressiona o beneficiário a obedecer.
INSS afirma que não convoca beneficiário por ligação para prova de vida
O conteúdo foi analisado por serviços de checagem e mostrado ao INSS. Em nota, a assessoria de imprensa do instituto informou que não faz ligação de convocação para prova de vida, exatamente o contrário do que dizem os golpistas durante a abordagem.
A autarquia lembra que a prova de vida é um procedimento obrigatório e anual, previsto na Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, mas reforça que o contato não é feito por telefonema para exigir senha, número de conta ou qualquer dado sensível. A enfermeira enganada em Rio Preto, porém, foi levada a crer que se tratava de uma exigência formal do instituto.
Esquema bilionário de descontos irregulares abriu espaço para novos golpes
As mensagens de voz com a falsa prova de vida se espalharam após a revelação de um esquema bilionário de fraudes em benefícios do INSS, desarticulado em operação conjunta da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União em 23 de abril de 2025.
Nesse esquema, valores eram descontados dos beneficiários sem qualquer autorização, como se eles tivessem aderido a associações e sindicatos que prometiam vantagens, como descontos em academias e planos de saúde, mas que na prática não tinham estrutura para prestar serviços. A crise de confiança aberta por essas fraudes acabou sendo explorada por novas quadrilhas, como a que enganou a enfermeira em São José do Rio Preto.
Como se proteger de golpes que usam o nome do INSS
As orientações do próprio instituto diante da circulação da gravação são claras: o INSS não liga para fazer prova de vida nem para pedir senha, número de cartão ou autorização de portabilidade. Qualquer pedido desse tipo por telefone deve ser encarado como sinal de golpe.
Diante de uma abordagem semelhante à que atingiu a enfermeira de 68 anos, a recomendação é desligar a chamada, não digitar números solicitados e não fornecer informações pessoais ou bancárias.
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