Golpe na venda de caminhões desvia 51 veículos, trava negócios em todo o estado de São Paulo e deixa compradores que pagaram até R$ 2,3 milhões sem conseguir rodar com os caminhões
O golpe na venda de caminhões que estourou em São Paulo está deixando um rastro de prejuízo, indignação e incerteza entre lojistas, transportadoras e motoristas autônomos. Em um mercado que movimenta altos valores, dezenas de caminhões foram vendidos sem que a documentação fosse regularizada, e muitos compradores descobriram, só depois de pagar, que os veículos tinham registro de furto ou sequer estavam devidamente liberados pela concessionária.
No centro dessa história estão ao menos 51 caminhões desviados dos pátios de uma concessionária, um empresário investigado pela polícia, vítimas que investiram economias de uma vida e hoje não podem trabalhar com os veículos que compraram.
Enquanto o inquérito avança, cresce a lista de prejudicados pelo golpe na venda de caminhões, que pode chegar à casa dos milhões de reais em perdas.
Do caminhão velho ao prejuízo de R$ 2,3 milhões
Em Sumaré, no interior de São Paulo, a loja de seu Gilberto Galdino é um retrato da força e da vulnerabilidade desse mercado. Depois de uma vida inteira na boleia, ele saiu do volante para abrir uma revenda de caminhões usados, negócio em que os lucros podem passar de R$ 40 mil ou R$ 50 mil em apenas uma venda.
Começou pequeno, com um caminhão antigo, trabalhando ao lado da esposa, fazendo entregas, comprando o segundo veículo, depois o terceiro, até construir uma estrutura familiar sólida. Com o tempo, percebeu que estava ganhando mais comprando e vendendo caminhões do que transportando cargas e decidiu focar na revenda.
O negócio prosperou a ponto de ele realizar o sonho de comprar um sítio, plantar milhares de pés de café e reinvestir o lucro da primeira safra na loja. Foi assim que colocou R$ 2,3 milhões em caminhões seminovos que hoje estão no centro do golpe na venda de caminhões.
Negócios no fio do bigode e confiança quebrada
No mercado de usados, é comum que muitos negócios sejam fechados no chamado “fio do bigode”. Quando o comprador confia no vendedor, nem sempre a transferência do veículo é feita na hora, o que exige ainda mais responsabilidade de quem intermedia as operações.
Gilberto comprava caminhões, havia mais de 20 anos, com o mesmo vendedor em São Paulo. Esse profissional trabalhava com lojas e concessionárias, pegava caminhões e repassava para lojistas como ele, sempre com bons resultados.
Em determinado momento, esse intermediário passou a atuar em uma nova empresa de comércio de caminhões, apresentando a estrutura como capaz de concentrar e distribuir veículos de várias concessionárias da região de São Paulo para lojistas de todo o estado.
A confiança construída em décadas pesou. Gilberto aceitou comprar seis caminhões seminovos, pagou antecipado, mas até hoje não recebeu os documentos.
Os veículos foram pagos, mas não puderam ser regularizados. O que parecia mais um bom negócio virou parte do golpe na venda de caminhões que se espalhou pelo setor.
Caminhões novos, queixa de furto e risco de perder tudo
Um dos veículos comprados por Gilberto é um caminhão fabricado em 2022, de grande porte, avaliado em cerca de R$ 450 mil, com pouco tempo de uso e totalmente preparado para o transporte rodoviário pesado.
É o tipo de caminhão que, rodando o mês inteiro, pode gerar um faturamento bruto de até R$ 80 mil mensais para quem trabalha com frete.
Mas esse caminhão hoje não pode ser vendido nem rodar com tranquilidade. Ele aparece em uma queixa de furto registrada pela concessionária que teve 51 caminhões desviados, e faz parte da lista de veículos ligados ao golpe na venda de caminhões.
A suspeita é que os caminhões foram retirados dos pátios sem autorização, enviados para lojas parceiras e vendidos sem que a documentação fosse corretamente transferida.
Quem comprou, pagou, recebeu o caminhão e passou a usar ou revender o veículo agora enfrenta o pior cenário: risco de perder o caminhão, perder o dinheiro e ainda responder por um bem com registro de furto.
O empresário investigado e a escalada de luxo antes do golpe
Segundo a investigação da polícia, o nome mais citado no golpe na venda de caminhões é o de André Engles de Oliveira Silva, dono de empresa do ramo de compra e venda de caminhões. Ex-funcionários relatam que ele começou como vendedor em concessionária, montou o próprio negócio e, em cinco anos, abriu outras lojas, inclusive na capital.
Com forte presença em publicidade e patrocínio de corridas de caminhões, construiu a imagem de empresário de sucesso, aproximando-se de donos de transportadoras e clientes com alto poder de investimento.
As cenas relatadas incluem oferta de voltas de caminhão em autódromos, helicóptero e até jatinho à disposição, criando o retrato de alguém financeiramente poderoso e bem conectado.
Relatos de convidados apontam que a festa de casamento de André custou o equivalente a três caminhões, cerca de R$ 1 milhão, e que ele passou a viver em condomínio de alto padrão.
Para investigadores e vítimas, essa escalada de luxo coincide com o período em que o golpe na venda de caminhões se consolidou, por meio da retirada de dezenas de veículos de uma concessionária e posterior revenda sem documentação regular.
Como os 51 caminhões desapareceram dos pátios
De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela concessionária, 51 caminhões desapareceram dos pátios da empresa. Sem espaço físico suficiente, a concessionária teria confiado na estrutura do empresário para guardar os veículos. A suspeita é que, a partir daí, os caminhões foram repassados para lojas e compradores em diferentes regiões, sem que a empresa recebesse o pagamento devido e sem que os documentos fossem emitidos e transferidos corretamente.
Esses caminhões, segundo investigações, foram espalhados pelo Brasil e revendidos em condições aparentemente regulares aos olhos de lojistas e transportadoras. Na prática, porém, tratava-se do mesmo núcleo do golpe na venda de caminhões, pois o intermediário não era o verdadeiro dono dos veículos e não tinha poderes para concluir a documentação.
Quando a concessionária registrou o furto e identificou as operações irregulares, os compradores passaram a descobrir que os caminhões pelos quais pagaram estavam, na verdade, ligados a uma ocorrência policial.
Transportadora com caminhões parados e prejuízo crescente
O caso de Vladimir, dono de uma transportadora em Mogi das Cruzes, é outro exemplo da extensão do golpe na venda de caminhões. Ele já havia feito negócios anteriores com André e confiava no empresário, que aparecia em eventos, patrocinava corridas de caminhão e mantinha forte presença no setor.
No último negócio, Vladimir comprou três caminhões de grande porte. Apenas um deles estava com a documentação em ordem. Os outros dois, retirados da mesma concessionária que registrou o sumiço dos 51 veículos, passaram a constar como furtados.
Sem documentos, ele não consegue transferir a propriedade para o nome da empresa e os caminhões estão parados há três meses no pátio da transportadora.
O prejuízo não é só o valor pago, cerca de R$ 650 mil pelos dois veículos, mas também o quanto deixaram de faturar nesse período. Vladimir calcula que poderia estar gerando algo em torno de R$ 250 mil de faturamento bruto por mês com esses caminhões rodando. Além do impacto financeiro, há motoristas sem trabalho e contratos que não podem ser atendidos.
Investigação, inquérito policial e pouca certeza para as vítimas
O Departamento Estadual de Investigações Criminais já recebeu diversas denúncias ligadas ao golpe na venda de caminhões, e o caso é apurado por meio de inquérito policial.
A concessionária que teve 51 caminhões desviados afirma, em nota, que identificou uma fraude envolvendo furto de veículos de seu estoque e operações irregulares de venda sem autorização, e diz estar adotando todas as medidas legais para responsabilizar os envolvidos.
Um diretor comercial da concessionária, que chegou a registrar o boletim de ocorrência sobre o desaparecimento dos caminhões, foi afastado. A polícia investiga se houve participação de funcionários internos no esquema.
Já o empresário apontado pelas vítimas como pivô do golpe não respondeu aos contatos da reportagem, segundo relatado no caso original.
Advogados que acompanham as vítimas avaliam que parte dos compradores talvez nunca recupere os caminhões ou o dinheiro. Outros podem depender de bloqueios judiciais de bens, se houver patrimônio disponível no Brasil.
Enquanto isso, a sensação geral é de revolta pela facilidade com que o golpe na venda de caminhões se espalhou em um mercado que, muitas vezes, ainda funciona na base da confiança pessoal.
Trabalhadores no prejuízo e a lição amarga da confiança sem blindagem
Para gente como Gilberto, que investiu a safra do café e anos de trabalho em caminhões que hoje estão travados por um golpe na venda de caminhões, o sentimento é de injustiça. Ele reforça que o dinheiro veio de esforço real, de trabalho honesto, e que não é aceitável ver tudo isso evaporar por causa de uma operação fraudulenta.
A história deixa um alerta importante: mesmo em um mercado em que o “fio do bigode” sempre teve peso, a formalização completa do negócio é indispensável, especialmente quando se fala de veículos de alto valor como caminhões. Documentação, conferência de origem, checagem em órgãos oficiais e contratos detalhados deixam de ser burocracia para se tornar proteção mínima diante de esquemas cada vez mais sofisticados.
E você, já tinha ouvido falar de um golpe na venda de caminhões desse tamanho ou acha que ainda falta muita informação e orientação para quem compra e vende veículos pesados no Brasil?

