Minerva Foods alerta após China detectar fluazuron na carne bovina do Brasil, pressionando exportações e vigilância sanitária também na União Europeia.Minerva Foods alerta após China detectar fluazuron na carne bovina do Brasil, pressionando exportações e vigilância sanitária também na União Europeia.

Após a China encontrar fluazuron acima do limite em lotes de carne bovina do Brasil, a Minerva alerta pecuaristas para reforçar manejo e carência, sob risco de novos embargos, perda de credibilidade internacional e avanço de barreiras sanitárias em mercados estratégicos de alta renda como União Europeia e Reino Unido.

Nesta semana, a Minerva usou a rede de relacionamento Laço de Confiança para disparar um alerta aos fornecedores depois de a China detectar fluazuron acima do limite permitido em lotes de carne bovina do Brasil, sinalizando que qualquer nova ocorrência poderá pesar na fiscalização e nas compras do maior cliente do produto brasileiro, que já havia suspendido temporariamente importações de três empresas em março deste ano por causa de resíduos de produtos proibidos.

O recado ganha ainda mais peso porque as autoridades chinesas avançam em investigações que avaliam a aplicação de medidas de salvaguarda às importações de carne bovina e porque, ao mesmo tempo, casos recentes de resíduos também voltaram ao centro do debate na União Europeia, que recolheu cargas em pelo menos 11 países do bloco e no Reino Unido, às vésperas de uma possível assinatura do acordo Mercosul prevista para o dia 20 deste mês, após nota oficial divulgada pela Missão do Brasil junto à UE em 08 deste mês.

Minerva acende alerta e pede manejo mais rigoroso

No comunicado dirigido aos pecuaristas, a Minerva afirma que a China detectou níveis acima do permitido do carrapaticida fluazuron em alguns lotes embarcados pelo Brasil e avisa que, a partir de agora, a fiscalização sobre resíduos tende a ser reforçada nos próximos embarques. A companhia lembra que qualquer reincidência pode prejudicar as relações comerciais entre os dois países em um momento de sensibilidade regulatória.

A empresa, líder em exportação de carne bovina e derivados na América do Sul, confirmou apenas que o perfil Laço de Confiança é um canal oficial de relacionamento com o pecuarista, usado para compartilhar informações atualizadas sobre temas relevantes para a pecuária. Sem comentar o conteúdo específico da postagem, a indústria reforçou, por meio da iniciativa, que seguir corretamente as orientações de uso dos produtos veterinários, incluindo dose, forma de aplicação e período de carência, é condição básica para manter os embarques em conformidade e preservar a credibilidade da carne brasileira junto aos compradores internacionais.

Histórico recente de detecções na China com a carne bovina do Brasil

A presença de resíduos na carne bovina do Brasil não é um fato isolado no relacionamento com a China. Em março deste ano, o país asiático chegou a suspender temporariamente as importações de carne bovina de três empresas brasileiras por causa de resíduos de produtos proibidos em seu território. Os embarques só foram retomados depois de tratativas técnicas entre as autoridades dos dois países, em um episódio que acendeu um primeiro sinal amarelo para a indústria.

Agora, com a identificação de fluazuron acima do limite em parte dos lotes brasileiros, o tema volta ao foco em um ambiente mais tenso, justamente quando Pequim avalia a adoção de medidas de salvaguarda sobre as compras de carne bovina. Na prática, uma nova falha de manejo dentro da fazenda pode ser usada como argumento adicional por quem defende travas extras às importações, o que aumenta a pressão para que os pecuaristas cumpram à risca o período de carência indicado pelos fabricantes de carrapaticidas.

União Europeia recolhe lotes e mira hormônios na carne bovina do Brasil

Enquanto a China vigia de perto o fluazuron, a União Europeia direciona os holofotes para o uso de hormônios na carne bovina do Brasil. No início desta semana, o Agro Estadão noticiou que lotes de carne bovina brasileira foram recolhidos em pelo menos 11 países europeus, além do Reino Unido, depois da detecção do estradiol, substância proibida pela legislação local quando usada para fins de ganho de peso.

Em nota divulgada em 08 deste mês, a Missão do Brasil junto à UE classificou o episódio como uma “ocorrência rara” e ressaltou que as cargas foram recolhidas após comunicação voluntária das próprias autoridades brasileiras aos inspetores europeus. O comunicado lembrou ainda que, desde 2011, o Brasil proíbe o uso de substâncias hormonais com atividade anabólica para ganho de peso em bovinos e que o estradiol é permitido apenas em doses reduzidas para fins reprodutivos em fêmeas, com o período de carência devidamente observado.

O setor implementou, em janeiro deste ano, o Protocolo para a Exportação de Fêmeas Bovinas (PEFB), elaborado pela Associação Brasileira das Empresas de Certificação e aprovado pelo Ministério da Agricultura, com o objetivo de garantir rastreabilidade e assegurar que somente animais nunca tratados com estradiol sejam enviados à União Europeia. A Missão destacou também que exportações brasileiras ao bloco seguem múltiplas verificações in loco e que situações de não conformidade também ocorrem com produtos europeus exportados ao Brasil, tratadas por canais técnicos formais sem questionar a segurança geral dos alimentos.

Resíduos, barreiras sanitárias e disputas comerciais

Para o consultor Alcides Torres, da Scot Consultoria, parte da preocupação internacional com resíduos de produtos veterinários precisa ser interpretada também à luz das disputas comerciais. Segundo ele, exigências sanitárias podem, em determinados casos, funcionar na prática como barreiras não tarifárias impostas por países importadores, o que torna cada incidente de não conformidade um ponto sensível na negociação.

Torres ressalta que a presença de fluazuron na carne bovina do Brasil, quando ocorre, tende a ser pontual e poderia ser evitada com o cumprimento rigoroso do período de carência indicado pelo fabricante. Não se trata, segundo o consultor, de um problema de ordem nacional, mas de falhas individuais de manejo na fazenda que acabam repercutindo internacionalmente, justamente porque impactam um produto de forte peso exportador. Sobre o estradiol, ele reforça que a substância é usada em doses muito pequenas e restrita a protocolos reprodutivos, como a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).

O que o produtor pode fazer agora na fazenda

O alerta da Minerva e a repercussão do caso na China se somam às discussões na União Europeia e deixam claro que o manejo correto de antiparasitários e hormônios se tornou tema estratégico para quem vive da carne bovina do Brasil. Além da escolha de produtos regularizados, o cuidado central está em respeitar integralmente as orientações de dose, forma de aplicação e período de carência, reduzindo o risco de resíduos no momento do abate.

O Agro Estadão ouviu o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), que reforçou a importância de prevenir falhas de manejo e evitar produtos ilegais. Na prática, isso significa que qualquer descuido com carência ou uso de substâncias fora da legislação pode fechar portas em mercados de alto valor, justamente quando acordos comerciais e salvaguardas estão em discussão nos principais destinos da carne brasileira.

E você, diante desse recado da China e da pressão da União Europeia, acha que os pecuaristas brasileiros já fazem o suficiente para garantir que a carne bovina do Brasil chegue sem resíduos aos mercados mais exigentes?

Autor

  • Maria Heloisa

    Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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