No coração da imigração ilegal do Brasil, o leste de Minas e Governador Valadares concentram saídas para os Estados Unidos, com coiotes explorando o desespero de famílias em busca do sonho americanoNo coração da imigração ilegal do Brasil, o leste de Minas e Governador Valadares concentram saídas para os Estados Unidos, com coiotes explorando o desespero de famílias em busca do sonho americano

No coração da imigração ilegal do Brasil, cidades como Governador Valadares e Alpercata vivem meio século de travessias clandestinas, contratos com coiotes, massacres no México, deportações dolorosas e histórias de sucesso que alimentam novos planos de fuga para os Estados Unidos, mesmo quando famílias se endividam, vendem imóveis e retornam.

Em 2010, dois brasileiros do leste mineiro morreram em um massacre ao tentar cruzar pela fronteira do México, depois de recusarem ordens de traficantes. Em 2021, uma investigação da Polícia Federal relatou a morte de outro brasileiro abandonado por um coiote, enquanto um órgão americano registrava 57 mil brasileiros detidos no ano anterior, oito vezes mais que em 2019, números que consolidam o leste de Minas como coração da imigração ilegal do Brasil.

Ao mesmo tempo, desde a década de 1960, histórias de quem voltou com casa própria, carro e sotaque carregado de “americano” seguem abastecendo o imaginário local. O coração da imigração ilegal do Brasil bate entre o medo de desaparecer no deserto, o orgulho de ter vencido na América e a dor silenciosa de quem ficou para trás.

Leste de Minas, o coração da imigração ilegal do Brasil

Na região de Governador Valadares e dezenas de cidades ao redor, a ideia de partir para os Estados Unidos deixou de ser exceção há mais de meio século. Hoje, moradores dizem que é difícil encontrar uma família sem alguém “lá fora”. Em Alpercata, município com menos de 8 mil habitantes, chegou a faltar funcionário até em padaria, e servidores públicos abandonaram cargos para tentar a sorte na América.

Governador Valadares virou polo, ponto de partida e de retorno. Censos apontaram municípios do entorno entre os que mais enviam emigrantes para o exterior em todo o Brasil. É nesse conjunto de cidades que se firmou a imagem do leste mineiro como coração da imigração ilegal do Brasil, com redes de parentes, amigos e agenciadores estruturando a chamada indústria da travessia.

Como um trem, uma guerra e um mineral abriram a porta da América

Muito antes dos coiotes, o leste mineiro já tinha laços com os Estados Unidos. A estrada de ferro Vitória–Minas, inaugurada no início do século passado, foi reformada nos anos 1940 e trouxe engenheiros americanos para a região. Um deles, Simpson, se estabeleceu na cidade, deu nome a um viaduto e ajudou a criar um Rotary Club que passou a estimular intercâmbios entre jovens dos dois países.

O interesse americano não era apenas ferroviário. A região de Governador Valadares tinha Mata Atlântica abundante e grande reserva de mica, mineral usado na época como isolante em aviões de combate durante a Segunda Guerra. A extração organizada por empresas com capital dos Estados Unidos atraiu também a indústria siderúrgica, que consumiu vastas áreas de floresta para alimentar altos-fornos com carvão vegetal. Em poucas décadas, estudos apontavam que restavam menos de 5% da cobertura original.

Quando a mica perdeu valor com novas tecnologias e o solo, exaustivamente usado na pecuária, começou a perder produtividade, o motor econômico local se desgastou. Foi nesse cenário de devastação ambiental e crise lenta que a região consolidou o coração da imigração ilegal do Brasil, transformando o dólar em alternativa concreta à terra debilitada e às oportunidades minguadas.

Dos primeiros intercambistas à massa de valadarenses sem visto

Os primeiros mineiros que foram para os Estados Unidos na década de 1960 tinham perfil de classe média ou média alta, falavam inglês e migraram com convites formais de trabalho. Eram poucos, mas decisivos. Eles passaram a receber conterrâneos, abrir caminhos, explicar como tirar visto, encontrar emprego, alugar quarto, enviar dinheiro.

Com o tempo, esse fluxo se popularizou. O coração da imigração ilegal do Brasil passou a bater mais forte quando a viagem deixou de ser privilégio de quem tinha inglês e convite formal, passando a atingir gente que vendia tudo o que possuía para tentar atravessar sem documentação. A imprensa nacional começou a descrever Governador Valadares como um dos maiores exportadores de brasileiros para os Estados Unidos.

Histórias de quem foi, trabalhou até a exaustão e ergueu a casa própria

O aposentado Orestes, hoje com mais de 80 anos, viveu 26 anos nos Estados Unidos depois de sair do leste mineiro. Ele resume a experiência como “uma bênção” e diz que conseguiu tudo o que quis, embora admita que gastou muito e não guardou tanta riqueza quanto poderia. Ainda assim, lembra com orgulho de ter sustentado a família com o dinheiro ganho na América.

Adelson partiu em outubro de 1988 e voltou em novembro de 1990. Dois anos de trabalho intenso, mais de um emprego, pouco descanso. Seu plano inicial era juntar dinheiro para comprar casa, sítio e ajudar o pai, mas logo percebeu que seria impossível. Focou apenas na casa própria, que o pai construiu enquanto ele enviava dólares. Hoje, ele enxerga a casa como herança afetiva: fruto de seu esforço e das mãos paternas, já falecido.

Para esses personagens, o coração da imigração ilegal do Brasil se traduz em jornadas exaustivas, encontros familiares adiados por décadas e um misto de orgulho e saudade quando finalmente voltam para a rua onde cresceram.

A engrenagem dos coiotes e o preço do risco extremo

Um dos capítulos mais sombrios do coração da imigração ilegal do Brasil é a atuação de coiotes e agenciadores. Um morador da região relata ter ficado quase a noite inteira espremido em uma van com 26 pessoas, quando mal caberiam oito, enfrentando travessias de córregos em que, se alguém caísse, “nunca mais achava”. A ordem era clara: se conversasse, a polícia pegava e “não devolvia”.

Outros relatos lembram que, no passado, ao chegar na Guatemala, quem tentava recuar podia ser morto. Era descrito como “ida sem volta”. Em 2010, dois brasileiros do leste mineiro foram assassinados em um massacre enquanto tentavam entrar nos Estados Unidos pelo México, por supostamente se recusarem a trabalhar como assassinos de aluguel para traficantes. Em 2021, outro brasileiro morreu após ser abandonado por um coiote durante rota clandestina.

Agenciadores atuam abertamente na região. Quando alguém comenta que “quer ir”, logo aparece um telefone, uma promessa, um valor aproximado em dólares, muitas vezes na casa das dezenas de milhares. Famílias vendem casa, moto, móveis, firmam contratos de gaveta, apostando tudo em um acordo que pode terminar em deportação, morte ou anos de trabalho irregular. Nesse mercado, o coração da imigração ilegal do Brasil é alimentado por desespero econômico e por intermediações criminosas, em um jogo em que quem banca o risco é sempre o migrante.

Esquemas de cai-cai, crianças usadas e fronteira sul superlotada

Investigações do Ministério Público em Minas descrevem esquemas que simulam turismo na América Central. O passageiro embarca do Brasil para um país como Guatemala, com aparência de viagem legal, para só depois tentar completar o percurso por terra até a fronteira dos Estados Unidos.

Uma das estratégias é o chamado esquema de “cai-cai”, em que crianças e adolescentes são usados para forjar famílias. Um menor é apresentado como filho de um adulto com quem, muitas vezes, não tem qualquer laço de sangue. Quando esse grupo é interceptado na fronteira, a presença do menor faz com que as autoridades evitem deportação imediata e encaminhem o caso para um processo mais longo. Na prática, muitos conseguem permanecer no país por um tempo, às vezes por anos, enquanto o trâmite se arrasta.

Ao mesmo tempo, estatísticas mostram o salto nas tentativas de travessia. Em 2021, um órgão americano informou que 57 mil brasileiros foram detidos tentando cruzar ilegalmente a fronteira sul dos Estados Unidos no ano anterior, oito vezes mais que em 2019. Esses números reforçam por que Governador Valadares e o entorno são vistos como coração da imigração ilegal do Brasil: a demanda por saídas clandestinas cresce, apesar de prisões, mortes e deportações.

Passaportes, casas americanizadas e cidades esvaziadas

O impacto dessa cultura migratória aparece até na fila de passaportes. Em Governador Valadares, a emissão proporcional de passaportes supera a de Belo Horizonte, mesmo com população dez vezes menor. Em um ano recente, a capital mineira tinha cerca de 4,5% dos moradores com novo passaporte, enquanto Valadares chegava a 6,3%. O agendamento eletrônico organizou as filas, mas não reduziu a procura.

O traço americano está também na arquitetura. Casas inspiradas no estilo dos subúrbios dos Estados Unidos se multiplicam, erguidas com recursos enviados por quem ficou anos trabalhando em restaurantes, obras e serviços no exterior. Houve época em que muitas transações era fechadas em dólar, e outdoors com campanhas de Donald Trump surgiram na cidade, mesmo sem moradores com direito a voto na eleição americana.

Em Alpercata, quase todo mundo tem alguém ou já morou fora. Uma senhora diz ter filho, nora e netos vivendo nos Estados Unidos. Outro depoente conta que passou quase toda a vida adulta lá. O coração da imigração ilegal do Brasil se manifesta em ruas com poucas pessoas, escolas com menos alunos e famílias que se falam por vídeo chamada enquanto esperam, por anos, a chance de um reencontro presencial.

Famílias divididas, vistos negados e a saudade como parte da conta

A migração não afeta só quem parte. Pais, avós e irmãos ficam presos a um calendário de negativas consulares e saudades acumuladas. A dona de um buffet em Governador Valadares foi ao consulado no Rio em 22 de janeiro de 2025 para tentar, pela quinta vez, um visto de visita. Voltou com nova recusa, mas decidiu que não vai desistir de tentar ver os filhos e netos que moram nos Estados Unidos.

Douglas saiu legalmente em 2018, levou a namorada e os filhos no mesmo ano e se casou poucas horas depois de a família desembarcar em Washington. Ele diz acreditar que, quem trabalha, paga impostos e vive sem cometer crimes, não precisa temer endurecimentos de política migratória. Suas duas irmãs também moram lá. Já os pais, que ficaram em Minas, nunca conseguiram autorização para visitá-lo.

Para muitos parentes, o grande sonho não é mais emigrar, e sim conseguir um simples carimbo de entrada para abraçar quem foi embora. O coração da imigração ilegal do Brasil, nesse caso, são avós que conhecem netos apenas por tela, pais que envelhecem sem ver os filhos crescerem e famílias que seguem divididas entre Governador Valadares, Danbury, Massachusetts e tantas outras cidades onde o português mineiro se mistura com o inglês do dia a dia.

Diante desse cenário de risco extremo, dívidas altas, mortes na fronteira e famílias separadas, você acha que o coração da imigração ilegal do Brasil no leste de Minas continua valendo o preço cobrado pelo sonho americano ou que a região deveria apostar em outros caminhos de trabalho e renda sem depender da travessia clandestina?

Autor

  • Bruno Teles

    Falo sobre tecnologia, inovação, automotivo e curiosidades. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro.
    Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil.
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