São Paulo injeta bilhões no agronegócio, amplia exportações, leva investimento ao interior, leva a disputa ao Pontal do Paranapanema e acirra o debate sobre regularização fundiária.São Paulo injeta bilhões no agronegócio, amplia exportações, leva investimento ao interior, leva a disputa ao Pontal do Paranapanema e acirra o debate sobre regularização fundiária.

Com novos pacotes bilionários, São Paulo usa o agronegócio para financiar tecnologia, logística e pesquisa, mantém o maior PIB agropecuário do país, amplia exportações e provoca críticas ao programa de regularização fundiária no Pontal do Paranapanema, apelidado de bolsa grileiro por opositores, sob disputa permanente por terra e poder rural

Em 2024 e 2025, o governo paulista elevou o agronegócio ao topo da agenda econômica com pacotes sucessivos de crédito, seguro e infraestrutura rural. Depois de injetar cerca de R$ 1,4 bilhão no setor em 2024, o estado anunciou, em 2025, novos recursos de mais de R$ 600 milhões durante a feira Agre Show em Ribeirão Preto, fazendo o volume recente de investimentos superar a marca de R$ 2 bilhões no campo.

Ao mesmo tempo em que amplia crédito, moderniza estradas rurais e fortalece cooperativas, São Paulo reacende um debate antigo com o programa de regularização fundiária no Pontal do Paranapanema. A política concede descontos de até 90 por cento na compra de terras públicas ocupadas irregularmente, beneficiando produtores e grandes proprietários e abrindo uma nova frente de questionamentos sobre quem ganha e quem perde nesse agronegócio turbinado pelo Estado.

Do café ao etanol: como o agronegócio fez São Paulo ficar rico

Antes de bancos, montadoras e avenidas congestionadas, foi o campo que colocou São Paulo no centro da economia brasileira. O ciclo do café, iniciado no século XIX nas colinas férteis do Vale do Paraíba e depois expandido para Campinas, Limeira, Ribeirão Preto e Araraquara, ergueu fazendas, ferrovias e portos e financiou parte decisiva da infraestrutura do estado.

Quando a crise de 1929 derrubou o preço internacional do grão e arruinou o império dos barões do café, o interior paulista migrou para outro pilar do agronegócio. A cana de açúcar ocupou áreas livres, aproveitou infraestrutura já instalada e, a partir das décadas seguintes, transformou-se em base de um novo ciclo de prosperidade. Nos anos 70, com o Programa Nacional do Álcool, São Paulo já estava na frente, adaptando usinas, instalando destilarias e fazendo da cana combustível um ativo central da economia regional.

Laboratório a céu aberto: tecnologia, pesquisa e logística integrada

Com o avanço das máquinas na segunda metade do século XX, o campo paulista deixou de ser apenas produtivo para se tornar tecnológico. Colheitadeiras substituíram o corte manual, tratores tomaram o lugar da tração animal e a produtividade virou unidade de medida do tempo no agronegócio.

Universidades como USP e Unesp, além do Instituto Agronômico de Campinas, montaram laboratórios e centros de experimentação. Dali saíram novas variedades de cana, laranja e eucalipto, técnicas de irrigação mais eficientes, manejo de solo e experiências em biotecnologia. Ao mesmo tempo, o estado construiu uma combinação singular de rodovias, ferrovias, portos e polos industriais, permitindo que a produção agrícola encontrasse rapidamente processamento, armazenagem e exportação.

Hoje, drones sobrevoam lavouras, colheitadeiras operam com GPS e pesquisas genéticas saem direto das universidades para as propriedades. O agronegócio paulista não lidera pelo tamanho absoluto das lavouras, mas pelo valor que gera em cada hectare graças à tecnologia e à integração logística.

Números que mostram o peso do agronegócio paulista

Mesmo com o protagonismo recente do Centro-Oeste, São Paulo continua sendo uma das engrenagens centrais do agronegócio brasileiro. Segundo levantamentos citados pelo setor, o chamado agropaulista:

Ainda movimenta centenas de bilhões de reais por ano
Responde por cerca de 5,6 por cento da economia nacional
Concentra quase um quarto de toda a riqueza do agronegócio no país
Detém o maior PIB agropecuário entre os estados brasileiros

Nas exportações, o desempenho é igualmente expressivo. Em 2024, o estado foi responsável por quase 19 por cento de tudo o que o Brasil vendeu ao exterior no setor, e, somente no primeiro trimestre de 2025, o agronegócio paulista registrou superávit de 4,9 bilhões de dólares.

Por trás desses números, estão cadeias completas de produção que vão da cana e da laranja ao eucalipto, milho, mandioca, hortaliças, café, pecuária leiteira e suinocultura, com milhões de hectares dedicados a papel e celulose e a biocombustíveis.

Investimentos recentes: mais de R$ 2 bilhões para turbinar o campo

Nos últimos anos, o governo estadual colocou o agronegócio como uma de suas prioridades explícitas. Em 2024, foi lançado um pacote de aproximadamente R$ 1,4 bilhão para impulsionar o setor com três frentes principais:

Crédito rural para ampliar capital de giro e investimento
Incentivos fiscais para cadeias produtivas estratégicas
Modernização de propriedades, com foco em mecanização e gestão

Um dos destaques foi a ampliação do ProT Trator, programa que ajuda pequenos e médios produtores a comprar máquinas novas com desconto. A ideia básica é empurrar tecnologia para quem ainda trabalha em modelo tradicional, elevando a produtividade média sem depender apenas de grandes grupos empresariais.

Em 2025, durante a Agre Show em Ribeirão Preto, o governo anunciou um novo pacote de mais de R$ 600 milhões voltados ao campo, reforçando que o agronegócio continua no centro da política econômica paulista. Parte dos recursos foi destinada a:

Ampliar o seguro rural, protegendo produtores contra secas e enchentes
Recuperar estradas rurais, reduzindo custos de escoamento
Modernizar cooperativas e financiar equipamentos agrícolas para pequenos produtores

Somados, os aportes de 2024 e 2025 ultrapassam R$ 2 bilhões em poucos anos, consolidando um ciclo de investimento público direto no interior.

Pontal do Paranapanema: regularização fundiária e o rótulo de bolsa grileiro

Nenhuma iniciativa recente, porém, gerou tanta controvérsia quanto o programa de regularização fundiária no Pontal do Paranapanema, região de histórico conflito por terra no extremo oeste paulista. O plano prevê descontos de até 90 por cento para interessados em regularizar terras públicas ocupadas irregularmente, com impacto estimado de cerca de R$ 18,5 bilhões em abatimentos.

Na prática, o governo argumenta que a medida dá segurança jurídica a produtores, permite acesso a crédito e ajuda a destravar investimentos no agronegócio. Críticos, por outro lado, denunciam risco de legalizar áreas griladas com recursos públicos e consolidar grandes patrimônios privados a valores muito inferiores aos de mercado.

O caso da fazenda Itapiranga, em Marabá Paulista, escancara a dimensão da polêmica. Com desconto de 90 por cento, os proprietários regularizaram 2.000 hectares pagando pouco mais de R$ 2,7 milhões por uma área avaliada em cerca de R$ 25 milhões. E o uso declarado do imóvel não é agrícola, mas de aeródromo particular, o que reforça a crítica de que terras públicas rurais estariam sendo convertidas em ativos privados fora da lógica produtiva.

Diante de situações como essa, o apelido de “bolsa grileiro” se espalhou entre movimentos sociais e setores da oposição, que enxergam no programa uma anistia ampla a ocupações irregulares em nome de um suposto fortalecimento do agronegócio.

Contradições do agronegócio paulista entre inovação e disputa por terra

O retrato atual de São Paulo reúne, no mesmo quadro, um agronegócio de alta tecnologia, integrado a universidades, rodovias e portos, e um conjunto de conflitos antigos sobre posse e uso da terra que remontam ao ciclo do café e à ocupação desordenada do interior.

De um lado, drones, GPS e biotecnologia elevam a produtividade por hectare, impulsionam exportações e consolidam o estado como um dos maiores motores do campo no país, mesmo sendo o mais urbano do Brasil. De outro, programas de regularização com descontos bilionários, críticas de favorecimento a grandes proprietários e tensões em regiões como o Pontal do Paranapanema mostram que a estrutura fundiária segue longe de um consenso.

No fim, São Paulo continua sendo um espelho fiel do agronegócio nacional: forte em inovação, decisivo para o PIB e as exportações, mas atravessado por disputas sobre quem se apropria da terra, do crédito subsidiado e dos ganhos de produtividade.

Depois de ver como o agronegócio paulista mistura tecnologia de ponta com conflitos antigos por terra, você acha que os investimentos públicos recentes equilibram desenvolvimento e justiça fundiária ou aprofundam a concentração de riqueza no campo?

Autor

  • Maria Heloisa

    Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

3 thoughts on “São Paulo investe mais de R$ 2 bilhões no agronegócio, transforma o campo em laboratório de tecnologia, turbina exportações, cria ciclo de riqueza no interior e reacende polêmica sobre regularização fundiária no Pontal do Paranapanema”
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