Censo 2022 do IBGE revela como moradores enfrentam abandono nas favelas, sem infraestrutura urbana básica e carentes de pavimentação e serviços essenciais.Censo 2022 do IBGE revela como moradores enfrentam abandono nas favelas, sem infraestrutura urbana básica e carentes de pavimentação e serviços essenciais.

Levantamento do IBGE com dados do Censo 2022 mostra que mais da metade dos moradores de favelas vive em ruas sem drenagem, com calçadas cheias de obstáculos, pouca arborização, quase nenhum ponto de ônibus e acesso difícil para veículos em milhares de comunidades brasileiras espalhadas por 656 municípios urbanos brasileiros.

Na manhã de 5 de dezembro de 2025, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados do Censo 2022 sobre as condições urbanas nas favelas e comunidades urbanas brasileiras. Os dados mostram que mais da metade dos moradores desses territórios vive em trechos de rua sem bueiro ou boca de lobo, em um cenário que combina falta de drenagem, pavimentação irregular e dificuldade de circulação cotidiana.

Os números do Censo 2022 detalham a realidade de 16,3 milhões de pessoas, o equivalente a 8,1% da população do País, que vivem em 6,5 milhões de domicílios concentrados em 12.348 favelas e comunidades urbanas, distribuídas por 656 municípios. A publicação das informações em 5 de dezembro de 2025 expõe, com base oficial, um quadro de abandono que já é conhecido na prática por moradores de lugares como Paraisópolis, em São Paulo, e Rocinha, no Rio de Janeiro.

16,3 milhões de pessoas em 12.348 favelas espalhadas pelo País

De acordo com o IBGE, o Brasil registra 12.348 favelas ou comunidades urbanas em 656 municípios, onde vivem 16,3 milhões de pessoas.

Isso significa que 8,1% da população brasileira reside nesses territórios, em cerca de 6,5 milhões de domicílios. A concentração é maior na região Sudeste, que abriga 48,7% das comunidades, incluindo alguns dos maiores aglomerados do País.

Esses dados mostram que as favelas não são exceção pontual, mas um componente estrutural das cidades brasileiras.

Em muitos municípios, essas áreas crescem espremidas entre bairros formais, rodovias e encostas, quase sempre com infraestrutura muito inferior à encontrada em outras partes da mesma cidade.

Bueiro, drenagem e pavimentação: o básico que não chega às favelas

O levantamento do Censo 2022 mostra que 54,6% dos moradores de favelas e comunidades urbanas vivem em trechos de vias sem bueiro ou boca de lobo.

Na prática, isso significa ruas mais sujeitas a alagamentos, lama, esgoto a céu aberto e dificuldades ainda maiores em dias de chuva forte. Fora dessas áreas, a presença de drenagem é bem mais comum.

A pavimentação das ruas também evidencia a desigualdade. Nas favelas, 21,7% dos moradores vivem em vias sem pavimentação, enquanto fora desses territórios apenas 8,2% da população enfrenta o mesmo problema.

Ou seja, quem vive nas favelas tem quase três vezes mais chance de morar em rua de terra, com poeira na estiagem e lama quando chove, o que afeta deslocamentos, saúde e até a entrada de serviços básicos.

Calçadas cheias de obstáculos e dificuldade para caminhar

O entorno dos domicílios foi analisado em detalhes pelo IBGE, considerando circulação da via, pavimentação, presença de bueiro, iluminação pública, ponto de ônibus ou van, sinalização para bicicleta, calçada ou passeio, obstáculos na calçada, rampa para cadeirante e arborização.

Nos trechos de rua onde vivem moradores de favelas, mais de 96% das pessoas enfrentam calçadas com obstáculos.

São desníveis, buracos, degraus irregulares, entulho, postes ou outros elementos que impedem uma circulação segura.

Fora das comunidades, essa porcentagem ainda é alta, 77,6%, mas mesmo assim é bem menor do que a realidade encontrada nas áreas mais pobres.

Isso significa que andar a pé nas favelas é, em geral, mais arriscado e cansativo, especialmente para idosos, pessoas com mobilidade reduzida, mães com carrinho de bebê ou trabalhadores que dependem de longas caminhadas diárias até o transporte público ou o trabalho.

Acesso só a pé, de moto ou bicicleta para quase um quinto dos moradores

Outro ponto crítico é o acesso de veículos. Segundo o Censo 2022, 19,2% dos moradores de comunidades vivem em trechos de vias acessíveis apenas por moto, bicicleta ou a pé.

São vielas estreitas, becos, escadarias e ladeiras onde carros, ambulâncias, caminhões de mudança ou veículos de serviço simplesmente não conseguem chegar. Fora das comunidades, esse percentual cai para 1,4%.

Na prática, isso significa que quase um em cada cinco moradores de favelas vive em áreas onde um carro de emergência pode não chegar até a porta de casa.

Em situações de incêndio, enchente ou problema grave de saúde, minutos perdidos carregando uma pessoa escada acima ou abaixo podem fazer diferença entre vida e morte.

Ônibus raro, ponto distante e espera mais longa nas favelas

O levantamento também mostra que apenas 5,2% dos moradores de favelas vivem em trechos de via com ponto de ônibus ou van, o que corresponde a cerca de 836 mil pessoas. Fora dessas áreas, a proporção de moradores com essa infraestrutura é mais que o dobro, 12,1%.

Os pesquisadores do IBGE alertam que esses dados são coletados por trecho de via, o que pode dar a impressão de escassez extrema de pontos de ônibus.

Ainda assim, os números indicam que o acesso formal ao transporte coletivo é bem mais limitado dentro das comunidades, o que se traduz em caminhadas maiores até o ponto mais próximo e mais tempo gasto no deslocamento diário para trabalhar, estudar ou acessar serviços públicos.

Iluminação pública e arborização: melhora parcial, desigualdade resistente

No caso da iluminação pública, o cenário é menos desigual, mas a diferença ainda existe. Em favelas e comunidades urbanas, 91,1% dos moradores vivem em ruas com iluminação pública, enquanto fora dessas áreas a proporção sobe para 98,5%.

Isso mostra que a luz dos postes chega à maioria das comunidades, mas ainda há trechos escuros que ampliam a sensação de insegurança e dificultam a circulação à noite.

Já a presença de árvores e sombra nas ruas evidencia outra camada de desigualdade. Nas favelas e comunidades urbanas, 35,4% dos moradores vivem em trechos de vias arborizadas.

Fora dessas áreas, 69% da população conta com esse tipo de infraestrutura verde. A diferença impacta conforto térmico, qualidade do ar e até a percepção de bem-estar no espaço urbano. Quem vive nas favelas tende a enfrentar ruas mais áridas, quentes e expostas.

Cadeirantes sem rampa e bicicletas sem sinalização nas comunidades

Os equipamentos urbanos mais raros nas comunidades mais pobres são justamente aqueles voltados à acessibilidade e à mobilidade ativa.

De acordo com o Censo 2022, apenas 5% dos moradores de favelas vivem em trechos de via com rampa para cadeirantes. Isso significa que a imensa maioria das pessoas com deficiência enfrenta degraus, desníveis e barreiras permanentes para se deslocar.

A situação é ainda mais crítica quando se fala em bicicletas. Somente 1% dos moradores das comunidades vive em trechos com sinalização para bicicletas, como ciclofaixas ou ciclovias.

Fora das favelas, essa estrutura também não é abundante, mas os dados mostram que as áreas mais pobres praticamente não entram no mapa da mobilidade cicloviária planejada, o que reforça a ideia de que esses territórios ficam à margem dos projetos urbanos mais modernos.

Diante de tantos números, uma pergunta fica no ar: na sua cidade, a realidade das favelas parece melhor, pior ou exatamente igual ao que o Censo 2022 acabou de revelar?

Autor

  • Maria Heloisa

    Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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